Saiba mais sobre o pé diabético.
Enfermeira especialista no tratamento de feridas alerta para importância da prevenção.
Estima-se que 50% das pessoas que têm diabetes não estão diagnosticadas. E uma pessoa que tem diabetes sem saber também corre riscos de ter o chamado “pé diabético”. Esse é o maior risco. “Quando a pessoa desconhece que tem diabetes, não controla a glicemia, e as taxas elevadas ocasionam os danos”, alerta a enfermeira estomaterapeuta Suely Rodrigues Thuler, especialista em podiatria e diretora do Departamento de Comunicação e Marketing da Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest).
O pé diabético é uma séria complicação do diabetes. “Compreende todas as situações de risco para os pés, decorrentes, principalmente, da lesão dos nervos (neuropatia) e dos vasos (vasculopatia)”, explica Suely. E essas alterações, se não forem tratadas, podem levar a graves consequências como a amputação dos pés, de parte deles ou de todo o membro inferior.
O exame para detecção do diabetes é simples e deve ser realizado, principalmente, por todos que têm história familiar, obesidade e sedentários, orienta a enfermeira. “Existem sinais, daí a importância da avaliação do grau de risco”, diz.
Segundo ela, o Consenso Internacional do Pé Diabético, em publicação recente, recomenda que todas as pessoas com diabetes tenham seus pés examinados por profissionais uma vez por ano. Mas, de acordo com o resultado, o exame deve ser feito a cada seis meses, três meses ou até uma vez por mês.
O que pode desencadear o pé diabético?
A hiperglicemia – taxa aumentada de glicose (açúcar) no sangue – prejudica as artérias (vasos que levam nutrientes e oxigênio a todas as células do corpo) e os nervos – responsáveis por informar ao cérebro, como as sensações de temperatura (quente e frio), de dor, de tato e de pressão.
Quais as principais complicações?
A lesão dos nervos causa:
- Redução da sensibilidade, que leva ao risco de queimaduras, cortes, bolhas etc que não são percebidas pelas pessoas, podendo evoluir para feridas extensas, profundas e infectadas.
- Redução da umidade dos pés, tornando a pele seca e com tendência a fissuras (rachaduras), mais comuns nos calcanhares.
- Alterações do formato dos pés, que passam a ter áreas com maior pressão e, como consequência, formação de calosidades espessas que pressionam os tecidos abaixo da pele, ocasionando sangramentos internos e feridas.
A doença dos vasos causa:
- Diminuição da nutrição dos tecidos, facilitando o aparecimento de feridas.
- Pele seca, com tendência a fissuras.
- Dificuldade de cicatrização.
- Gangrena.
Quais as formas de prevenção?
Suely defende que é preciso orientar e conscientizar a pessoa com diabetes e seus cuidadores e familiares sobre a importância da prevenção. “Toda prevenção começa com o esforço para manter uma boa compensação das taxas de glicemia e com a identificação dos pacientes sob risco, através de exames de sensibilidade, da estrutura e da circulação sanguínea nos pés”, explica a enfermeira.
Medidas preventivas:
- Educação e informação à população sobre a diabetes e possíveis complicações.
- Controle rigoroso da glicemia.
- Autoexame diário dos pés ou pelo cuidador.
- Avaliação do grau de risco para desenvolver lesões, por profissionais da saúde (todas pessoas com diabetes – uma vez por ano).
- Uso de calçados que acomodem os pés sem apertá-los ou “amontoar” os dedos por terem os bicos estreitos.
- Hidratação da pele (não passar creme entre os dedos).
- Tratamento médico da neuropatia e da vasculopatia.
- Corte das unhas sem aprofundar nos cantos (de forma mais reta).
- Não cortar as cutículas (elas protegem a raiz da unha).
- Tratamento de calos enfermeiro podiatra ou enfermeiro com capacitação procedimentos podiátricos em pés diabético.
- Tratamento das úlceras isquêmicas e neuropáticas por enfermeira especialista.
Como é o tratamento do pé diabético?
O tratamento das úlceras (feridas) deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar e especializada. “É importante que a pessoa procure ajuda profissional assim que perceber qualquer alteração, o que facilitará e proporcionará bons resultados no tratamento”, orienta Suely.
A enfermeira explica que o agravamento das lesões pode ser muito rápido e grave, podendo levar a internações e até amputações. “Quanto à imobilização, dependendo do local da ferida, será fundamental o uso de medidas especiais que eliminem a pressão sobre o local da ferida (andadores, muletas e calçados especiais, entre outros)”, alerta.
Três perguntas
- Qual profissional pode tratar o pé diabético? O ideal é que seja tratado por uma equipe interdisciplinar constituída por médico especialista em diabetes, enfermeiro, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta.
- O que é proibido para quem tem pé diabético? Deixar de observar os pés diariamente. Quem tem dificuldade pode utilizar um espelho para visualizar melhor ou solicitar que um familiar examine.
- E o que todo diabético deve fazer? Observar bem o tipo de calçado que adquire e seguir as orientações dos profissionais especializados.
Fonte: Suely Rodrigues Thuler. Enfermeira Estomaterapeuta TiSOBEST. Especialista em Podiatria. Diretora do Departamento de Comunicação e Marketing da Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest).
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