Falhas em diagnóstico são a principal causa de prejuízos a um paciente em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses erros representam 16% dos danos evitáveis que um paciente pode sofrer. Isso inclui eventos graves ou até mesmo catastróficos, ou seja, quando há danos permanentes ou morte. A cada minuto, cinco pacientes morrem por erros evitáveis.
Estima-se que cerca de 5% dos atendimentos em ambulatório não recebam diagnóstico correto, o que impacta todo o tratamento. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso significa entre 40 mil e 80 mil casos todos os anos.
Além disso, um paciente em cada dez sofre por erros em cirurgias e na prescrição e no uso de medicamentos, de acordo com a OMS. A cada ano, essa realidade resulta em cerca de 3 milhões de mortes. A maioria desses casos, porém, poderia ser prevenida.
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“A falha no diagnóstico é o problema número um em segurança do paciente, mas ainda é um tema pouco conhecido e pouco discutido no Brasil”, alerta o médico intensivista Gustavo Janot, do Hospital Israelita Albert Einstein. “De modo geral, isso ainda não é prioridade nas instituições e não temos sequer a real dimensão da situação, pois é subnotificado e pouco estudado no nosso país”, completa a enfermeira Aline Pedroso, consultora de Qualidade e Segurança do Paciente no Einstein.
E não se trata apenas de erro médico. “As falhas são muito mais amplas e incluem falhas no modelo de cuidado (comunicação entre profissionais, transição do cuidado, laudos de exames, disponibilização de especialistas) e falhas cognitivas”, explica Janot.
Isso porque o diagnóstico deveria ser feito a partir de um processo em equipe, envolvendo várias fases: análise do histórico do paciente, exame físico, avaliações complementares e troca de informações entre diferentes profissionais da área da saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos. Com isso, é possível estabelecer uma hipótese sobre o caso e traçar uma estratégia de tratamento.
Nesse caminho, entretanto, pode haver várias falhas. Segundo Janot, as principais são as que envolvem o fator humano, principalmente as tomadas de decisão dos médicos. “O paciente pode apresentar sintomas que são ambíguos ou inespecíficos e induzir conclusões equivocadas. Febre ou náusea e vômitos, por exemplo, são sintomas que podem estar por trás de algo muito simples ou muito grave”, exemplifica o médico intensivista.
Uma dor no peito tratada como ansiedade pode ser uma embolia pulmonar maciça, por exemplo. Mesmo os ataques cardíacos podem apresentar sintomas fora do comum, como dor abdominal. “O médico deve tomar a decisão de forma mais analítica, considerando todas as possibilidades”, diz Janot.
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Motivos
Dentre os vários fatores que levam a diagnósticos errados, um dos principais é a falha na comunicação, segundo Aline Pedroso. Isso inclui desde o paciente que não fornece todas as informações do seu histórico até profissionais que não dialogam entre si.
“Ainda que o diagnóstico seja um ato médico, o processo diagnóstico é um trabalho em equipe, incluindo o paciente, equipes multidisciplinares e multiprofissionais, mas o cuidado ainda é muito fragmentado”, avalia Aline Pedroso. Daí a necessidade de mais integração entre as diversas equipes envolvidas.
Também pode haver problemas de treinamento, coordenação de cuidado e de protocolos. Sem contar o papel do paciente, que é essencial. “Muitas vezes, o paciente chega tarde ao sistema de saúde, ou não adere ao tratamento, ou não conta toda a verdade”, observa Janot.
“Por isso, devem ser encorajados a participar do processo diagnóstico, perguntar, detalhar seu histórico e conhecer todo o seu tratamento”, diz o médico. A enfermeira concorda: “Temos que envolvê-lo para que ele se torne parte do processo”.
A boa notícia é que é possível reduzir os riscos dessas falhas. “Mas, para isso, é preciso uma grande mudança cultural”, frisa Janot. “Tanto do lado dos profissionais da saúde quanto das pessoas que buscam atendimento”, afirma.
Dia da Segurança do Paciente
Para alertar sobre as falhas no diagnóstico, a OMS instituiu o Dia Mundial da Segurança do Paciente, celebrado no dia 17 de setembro. O objetivo é propor ações e diretrizes para minimizar falhas evitáveis e reduzir o risco de danos desnecessários associados ao cuidado com a saúde. Neste ano, o tema central da data foi “Melhorar o diagnóstico para a segurança do paciente”.
A Segurança do Paciente é um dos seis atributos da qualidade do cuidado e tem adquirido, em todo o mundo, grande importância para os pacientes, famílias, gestores e profissionais de saúde com a finalidade de oferecer uma assistência segura.
Fonte: Agência Einstein