Causada por uma bactéria que atinge a pele e os nervos periféricos, a hanseníase acomete pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. De acordo com o Ministério da Saúde, o contágio só acontece após longos períodos de exposição à bactéria, sendo que apenas uma pequena parcela da população infectada realmente adoece. As lesões neurais conferem à doença alto poder de gerar deficiências físicas e figuram como principal responsável pelo estigma e pela discriminação.
O Brasil ocupa, atualmente, a segunda posição no ranking global de países que registram novos casos de hanseníase. Em razão de sua elevada carga, a doença permanece como um importante problema de saúde pública no país, sendo de notificação compulsória e investigação obrigatória”, destaca o ministério. Com o objetivo de divulgar informações, a pasta lançou a campanha Hanseníase, Conhecer e Cuidar, de Janeiro a Janeiro, com ações de enfrentamento à doença ao longo de todo o ano.
No Brasil, desde 2016, por iniciativa do Ministério da Saúde, o mês de janeiro ganha a cor roxa. Durante o Janeiro Roxo, o governo e instituições médicas promovem ações nacionais de conscientização e prevenção contra a hanseníase. Ainda cercada de preconceitos, a doença tem cura e tratamento gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS). O Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é centro de referência estadual para diagnóstico e tratamento da doença.
Sinais e sintomas
Inicialmente, a hanseníase se caracteriza pela presença de dormência e formigamento pela pele, geralmente acompanhados de manchas brancas ou vermelhas, caroços e inchaços. Confira alguns sinais e sintomas da hanseníase:
- Manchas brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas e/ou áreas da pele com alteração da sensibilidade térmica (ao calor e ao frio) e tátil, dolorosa ou não;
- Comprometimento de nervos periféricos (geralmente, espessamento ou engrossamento), associado a alterações sensitivas, motoras ou autonômicas;
- Áreas com diminuição de pelos e de suor;
- Sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente nas mãos e nos pés;
- Diminuição ou ausência de sensibilidade e força muscular na face, nas mãos ou nos pés;
- Caroços ou nódulos no corpo, em alguns casos, avermelhados e dolorosos.
De acordo com o dermatologista e coordenador dos trabalhos com hanseníase no HC da UFMG, Marcelo Grossi, a própria pessoa pode levantar a suspeita do diagnóstico, observando esses sinais no próprio corpo.
Transmissão
A transmissão acontece quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da doença, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, infectando outras pessoas suscetíveis, ou seja, com maior probabilidade de adoecer.
O paciente elimina o bacilo pelas vias aéreas superiores (espirro, tosse ou fala) e não por objetos utilizados por ele. Para ocorrer a transmissão, também é necessário contato próximo e prolongado. Não se consideram doentes com poucos bacilos como importantes fontes de transmissão.
O tempo entre o contágio e o surgimento dos sintomas é longo e pode variar de três a sete anos, com relatos de períodos de incubação ainda maiores. Sem tratamento, ou em casos de diagnóstico tardio, a hanseníase gera sequelas que podem ser permanentes, incluindo deformidades, perda irreversível de sensibilidade nos membros, danos neurológicos e até amputações.
Diagnóstico
“Muitas doenças da pele e dos nervos periféricos se parecem com hanseníase. A confirmação do diagnóstico é feita pelo médico por meio do exame da pele e dos nervos periféricos e de alguns exames de laboratório”, assinala Grossi. O exame físico geral dermatológico e neurológico ajuda a identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade, comprometimento de nervos periféricos e alterações sensitivas, motoras e/ou autonômicas.
Pacientes com suspeita de comprometimento neural, sem lesão cutânea, e aqueles que apresentam área com alteração sensitiva duvidosa, mas sem lesão cutânea evidente, devem buscar unidades de saúde de maior complexidade.
Caderneta
Ainda segundo o ministério, a Caderneta de Saúde da Pessoa Acometida pela Hanseníase, entregue no momento do diagnóstico, figura como uma ferramenta para que o paciente acompanhe e registre seu tratamento e tenha em mãos orientações sobre a doença, direitos e o autocuidado.
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Discriminação
O estigma e a discriminação, de acordo com a pasta, podem promover a exclusão social e resultar em interações sociais desconfortáveis, que trazem sofrimento psíquico e limitam o convívio social. “Essa importante particularidade da hanseníase pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento, perpetuando um ciclo de exclusão social e econômica”.
Para Grossi, os maiores desafios no combate à doença são o diagnóstico complexo e os preconceitos. “Como a hanseníase tem características de doença crônica, os sinais e sintomas se desenvolvem muito lentamente e isso pode fazer com que a pessoa que os manifesta, ou o profissional de saúde que acompanha aquele indivíduo, não lhes dê a devida importância, por exemplo, quando se tem uma mancha pequena com anestesia que surgiu na pele há muitos anos”, analisa. Ele enfatiza, ainda, que isso pode retardar o diagnóstico e fazer com que o diagnóstico ocorra já com sequelas neurológicas instaladas.
Outro ponto é a crença da eliminação da doença no Brasil ou que ela só se manifesta em pessoas com higiene muito precária. O estigma associado à hanseníase também dificulta os esforços para interromper sua transmissão. “A hanseníase deve ser vista como uma infecção que tem tratamento e cura”, ressalta o dermatologista. “O desconhecimento e o medo do diagnóstico, o contágio e a rejeição fazem com que as pessoas ignorem o problema”, conclui o dermatologista.
Tratamento
Atualmente, o tratamento disponível é a poliquimioterapia (PQT), que combina três antibióticos: rifampicina, clofazimina e dapsona. O esquema terapêutico é feito gratuitamente pelo SUS e, em Minas, está disponível no HC da UFMG.
“O HC conta com um centro de referência estadual que atende a todos os casos encaminhados com suspeita ou algum tipo de complicação da doença. A marcação é feita por solicitação do profissional de saúde, que envia e-mail com os dados do paciente”, destaca Grossi.
Mitos e verdades sobre a hanseníase
Confira, a seguir, fatos e mitos sobre a hanseníase listados pelo ministério:
- É possível pegar hanseníase pelo abraço ou pelo compartilhamento de talhares e roupas: FALSO
- A transmissão ocorre por meio de contato próximo e prolongado: VERDADEIRO
- A hanseníase é de transmissão hereditária: FALSO
- A transmissão da doença ocorre de pessoa para pessoa: VERDADEIRO
- A hanseníase pode ser curada por meio de tratamento caseiro: FALSO
- O tratamento está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS): VERDADEIRO
- Pessoas com hanseníase devem ser afastadas do convívio familiar e social: FALSO
- A hanseníase tem tratamento e cura: VERDADEIRO
- Só transmite a hanseníase quem não está em tratamento ou o faz de forma irregular: VERDADEIRO
Fontes: Agência Brasil e Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)