Homem também deve fazer “pré-natal”
Foco são DSTs, mas deve-se aproveitar presença e avaliar saúde geral
Temos em mente que o pré-natal é voltado apenas para garantir a saúde da mulher e do bebê em gestação. O que muitas pessoas não sabem é que o homem pode aproveitar o pré-natal da parceira para avaliar a saúde dele.
“A gente percebe que o homem se envolve mais na primeira gestação, fica mais preocupado com a saúde, com a responsabilidade do filho”, afirma a ginecologista e obstetra Inessa Beraldo Bonomi, secretária geral da Sogimig – Associação de Obstetras e Ginecologistas de Minas Gerais. E esse pode ser o momento para que eles também se cuidem.
O alerta é feito no encerramento do Novembro Azul – mês dedicado a conscientizar a população sobre os cuidados com a saúde do homem.“Sempre incluímos a avaliação da saúde do homem no pré-natal. Não temos uma adesão grande dos pais às consultas. Mas, sempre que eles participam, a gente faz a abordagem deles”, diz Inessa. Essa é, inclusive, segundo ela, uma orientação da Sogimig aos especialistas.
“Há de fato essa clara tendência, por parte dos homens, de se preocupar mais com a sua própria saúde na iminência de se tornarem pais. Costumam se dizer preocupados em ver os filhos crescerem, em brincar com futuros netos, em estar presente nos momentos mais importantes. E sempre com saúde, para aproveitar bem a situação”, diz o médico clínico Paulo Mascarenhas Mendes.
“Tal atitude deveria ter início, a bem dizer, desde antes da concepção. Algumas situações específicas, em especial algumas doenças infectocontagiosas, podem influenciar de forma negativa o curso da gestação”, alerta Mendes, que é vice-presidente da SBCM-MG – Sociedade Brasileira de Clínica Médica, regional Minas Gerais.
Importância
A obstetra ressalta que a avaliação do parceiro é importante. “Uma das grandes preocupações hoje é a sífilis. É preciso tratar a mulher e o homem. Se ele não vem e não participa, fica difícil fazer o tratamento. Essa é uma das causas de não conseguirmos efetividade no combate à sífilis. De não conseguirmos tratar a gestante”, ela exemplifica.
Inessa explica que o tratamento da sífilis é feito com injeção (penicilina). “Eles aderem menos ao tratamento. Evitam procurar outros médicos. Por isso é importante tratar naquele momento, para não haver sequelas na gestante e no bebê”, afirma. Segundo ela, a gestante com sífilis é tratada como se estivesse na fase mais avançada, com três injeções, uma por semana.
Já o tratamento do parceiro dependerá do estágio da doença – se é primário, secundário ou terciário. Inessa explica que o ginecologista pode pedir exames para diagnosticar a sífilis e instituir o tratamento desse parceiro. “Há maior adesão ao tratamento quando o parceiro está presente”, admite a obstetra. A presença do homem no pré-natal é importante para avaliar outras DSTs, como hepatites B e C, HIV e HPV. “É importante fazer as sorologias da mulher e do homem”, diz Inessa.
Outro ponto importante, ela lembra, é a questão da incompatibilidade sanguínea ABO e do fator RH. Se a mulher for RH negativo e o homem, RH positivo, pode haver sensibilização dessa mulher durante a gestação, fazendo com que ela produza anticorpo contra o feto e provocando anemia. “É importante saber o RH do parceiro. Além dos hábitos de vida. Não adianta a gente recomendar hábitos saudáveis para a gestante se o parceiro não aderir. Ele pode ajudar, por exemplo, fazendo a caminhada junto com ela. A gente percebe maior efetividade”, afirma a médica.
Avaliação geral
Esse, segundo a obstetra, é o foco da abordagem do homem no pré-natal. “Mas pode ser, sim, o momento para orientar o parceiro a cuidar da saúde dele”, diz Inessa. Segundo ela, o obstetra pode solicitar exames gerais para avaliar a saúde do homem e, no caso de haver alterações, orientá-lo a procurar o médico de família ou clínico geral.
“Não podemos deixar de citar a carga de responsabilidade que acompanha a chegada de um novo filho e que pode gerar, especialmente naqueles mais propensos, tendência a desenvolver quadros relacionados ao estresse. Nós, clínicos, e eu diria que os médicos em geral, devemos sempre estar atentos para essa situação, por vezes subdiagnosticada”, complementa Mendes.
No SUS
Na rede pública, o “pré-natal do homem” oferece acesso a testes de sífilis, hepatites e HIV, além de tirar medidas antropométricas (pessoa, altura e índice de massa corporal); exames de rotina como hemograma, lipidograma; atualização do cartão de vacina; aferição da pressão arterial; e teste de glicemia.
Mas, de acordo com a pesquisa Saúde do Homem Paternidade e Cuidado feita pela Coordenação Nacional de Saúde do Homem do Ministério da Saúde e Ouvidoria do SUS – Sistema Único de Saúde, cerca de 84% dos homens não realizaram exames durante o pré-natal da mulher.
Preocupado com esse índice, o Ministério da Saúde lançou, em agosto deste ano, duas cartilhas: o Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde (foto) e o Guia da Saúde do Homem para Agente Comunitário de Saúde. O primeiro consiste em orientar os profissionais de saúde da rede pública para aproveitar o momento em que o homem está acompanhando a parceira no pré-natal e oientá-lo para que adote hábitos saudáveis e faça exames preventivos. O segundo tenta sensibilizar agentes de saúde para levar os homens aos postos de saúde e trabalhar a prevenção.
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