21 - novembro - 2024
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Pandemia contribuiu para queda do aleitamento materno, revela estudo da UFMG

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A pandemia de Covid-19 contribuiu para a queda do aleitamento materno. É o que mostra um estudo feito com mais de 2.000 parturientes de Belo Horizonte durante a crise sanitária. O resultado, divulgado ao Papo no Consultório no Dia do Aleitamento Materno, celebrado neste 1º de agosto, reforça a importância do apoio do empregador e das orientações dos profissionais de saúde para a adesão à amamentação.


O alerta é da enfermeira Fernanda Penido, professora-adjunta do Departamento Materno-Infantil e de Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que coordenou o estudo “Parto e aleitamento materno em filhos de mães infectadas por SARS-CoV-2”.


O mês de agosto é conhecido como Agosto Dourado por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Neste ano, o tema da campanha é “Apoie a amamentação: faça a diferença para mães e pais que trabalham”.

Interferência da pandemia na queda do aleitamento materno



A pesquisa, afirma Fernanda, mostrou que houve influência da Covid-19 nas práticas de amamentação. “Apesar dos avanços na atenção à saúde materno-infantil nos últimos anos, com o surgimento da pandemia, o atendimento à mulher nos serviços de saúde mudou, inclusive o foco que deveria ser centrado na mulher”, lamenta Fernanda.


Ela explica que, durante a pandemia do Covid-19, embora mantidas as recomendações, observou-se um enfraquecimento de muitos dos serviços obstétricos. Isso porque a maioria deles precisou se adaptar às condições desafiadoras impostas pela Covid-19. A redução nas taxas de amamentação ocorreu, principalmente, devido à queda nos acessos aos serviços de saúde e à perda de emprego durante a crise sanitária.


“Muitas perderam a licença-maternidade remunerada na pandemia. Ela é importante, pois permite a mulher se dedicar mais ao aleitamento. Sem a licença remunerada, ela precisa encontrar formas de trabalhar por conta própria, retorna ao trabalho muito cedo e isso aumenta a chance do desmame precoce”, diz a professora.


“A pandemia aumentou o risco de desemprego e interrompeu ou diminuiu o acesso aos serviços de pré-natal, pós-natal e amamentação. Teve impacto importante nesse sentido e isso reforça a importância do tema adotado na Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano”, afirma Fernanda.

Os resultados do estudo da UFMG


“Neste estudo, em relação à via de nascimento e amamentação, foram observadas maiores proporções de mulheres sem indicação de cesariana no momento da admissão e que amamentaram seus filhos no período pré-pandêmico em relação ao período pandêmico (93,33% versus 87,88%, respectivamente )” diz Fernanda.


Ela conta que também foram observadas maiores proporções de mulheres que amamentaram seus filhos dentre as que não apresentaram intercorrências clínico-obstétricas na gestação e não possuíam indicação de cesariana no momento da internação (período pré-pandêmico em relação ao período pandêmico, respectivamente: 90,91% e 55,13%).


“Outro resultado interessante foi a maior proporção de adesão ao aleitamento materno entre as mães não infectadas durante a pandemia em relação às infectadas/suspeitas (79,38% e 53,33%, respectivamente)”, afirma. Ela ressalta, no entanto, que esses percentuais são considerados altos e ficam acima dos dados nacionais porque se referem a hospitais humanizados e que são referência nas boas práticas do aleitamento materno.


A pandemia pode ter interferido nos cuidados após o parto e no incentivo ao contato pele a pele e amamentação exclusiva ou apoio à amamentação. “É importante que os profissionais de saúde incentivem o aleitamento materno logo após o nascimento, aconselhando as mães em relação ao processo de amamentação”, reforça Fernanda.


A pesquisa revelou que mulheres com via de nascimento cesariana apresentaram menor chance da realização do aleitamento materno após o nascimento. Em relação à paridade, mulheres multíparas apresentaram maiores chances de realizarem o aleitamento materno após o nascimento. Verificou-se, ainda, que a presença de intercorrências no recém-nascido, ao nascer, reduziu a chance de a mulher realizar o aleitamento materno após o nascimento.

Importância do aleitamento materno


A professora da UFMG lembra que a amamentação é uma das maiores formas para a criança desenvolver vínculo com a mãe e reduz a mortalidade infantil. A criança amamentada exclusivamente ao seio materno tem menos alergia, menos doenças respiratórias e, a longo prazo, explica Fernanda, apresenta diminuição da chance de excesso de peso, hipercolesterolemia (colesterol alto) e diabetes.


“Isso tem como reflexo, inclusive, menores gastos para o sistema de saúde e maior qualidade de vida”, diz. A mãe também ganha benefícios com o aleitamento materno, como redução do risco de a mulher desenvolver diabetes ou câncer de mama e ovário.

Metodologia do estudo da UFMG


Fernanda explica que o estudo de longitudinal invetigou a repercussão da pandemia no aleitamento materno entre parturientes dos hospitais Júlia Jubitschek, Sofia Feldman e Risoleta Neves, em Belo Horizonte. “Acompanhamos as mulheres na pandemia e no pós-pandemia”, conta. Os três hospitais públicos foram escolhidos por serem referência de boas práticas no atendimento a gestantes e, ainda, referência para as mulheres infectadas na época da pandemia.


O acompanhamento ocorreu nos 2 meses de maior incidência da Covid-19 no primeiro semestre de 2020. “A infecção por SARS-CoV-2 foi verificada por meio do prontuário das puérperas disponibilizados pelos hospitais e por meio de relato via telefônico. Avaliamos o período de 3 e 6 meses de seguimento para investigar a manutenção do aleitamento materno após o nascimento”, diz. Os dados são de 2020 a 2022. “É muito comum haver perdas em estudos como esse, mas os métodos e os resultados foram muito robustos”, explica.

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A campanha de aleitamento materno de 2023


Conhecer os benefícios do aleitamento materno para as mães e as crianças é importante tanto para a mãe como para a criança. Neste ano, o tema da campanha da Semana Mundial do Aleitamento Materno, que vai de 1º a 7 de agosto, é “Possibilitando a amamentação: fazendo a diferença para mães e pais que trabalham”.

O que é preciso saber sobre o aleitamento materno


O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lembra que amamentar os bebês imediatamente após o nascimento pode reduzir a mortalidade neonatal – aquela que acontece até o 28º dia de vida.

O aleitamento materno na primeira hora de vida, reforça o Unicef, é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois, auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia. E, além das questões de saúde, a amamentação fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho.

Os benefícios do leite materno:

  • O leite materno é o melhor alimento que um bebê pode ter. Pois é de fácil digestão e promove um melhor crescimento e desenvolvimento, além de proteger contra doenças.
  • Mesmo em ambientes quentes e secos, o leite materno supre as necessidades de líquido de um bebê.
  • Água e outras bebidas não são necessárias, portanto, até o sexto mês de vida.
  • Dar ao bebê outro alimento, que não o leite materno, aumenta o risco de diarreia ou outra doença.
  • O aleitamento materno protege bebês e crianças pequenas de doenças perigosas.
  • O leite materno é a primeira ‘vacina’ do bebê.
  • A amamentação também é responsável por criar um laço maior entre mãe e filho.

Dicas para as mães:

  • A amamentação frequente faz com que a mãe produza mais leite.
  • O bebê não precisa de nenhum outro alimento enquanto espera que a mãe produza mais leite.
  • Quase toda mãe é capaz de amamentar com sucesso. No entanto, muitas mães precisam de estímulo e de ajuda para que possam começar a amamentar.
  • A mãe que amamenta precisa de uma maior quantidade de alimentos e líquidos. Assim supre suas necessidades e produz leite em quantidade e qualidade adequadas ao bebê.
  • Ela precisa comer frutas, verduras, carnes, miúdos, legumes, feijão e arroz, que possuem os nutrientes e vitaminas de que precisa.
  • Deve beber bastante líquido: chás, água, sucos ou leite. Isso ajuda a produzir leite. E não deve consumir álcool, fumo e outras drogas, nem tomar medicamentos sem receita médica.

Os riscos de HIV/Aids:

  • Existe o risco de a mulher que tem HIV passar o vírus para seu bebê durante a amamentação.
  • Mulheres que vivem com HIV/Aids, ou que suspeitem ter o vírus, devem procurar auxílio médico. Elas devem fazer o teste e receber orientações sobre como proceder para evitar a contaminação da criança.
  • A mãe com status positivo para o HIV não pode amamentar. Mas o bebê pode tomar a fórmula infantil, que é de graça, em uma situação aconchegante, com a mesma atenção e carinho.

Introdução de outros alimentos:

  • A partir dos seis meses, os bebês precisam de uma alimentação variada, mas o aleitamento materno deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais.
  • O leite materno continua sendo uma importante fonte de energia, proteína e outros nutrientes, como vitamina A e ferro.
  • O leite materno ajuda a prevenir doenças enquanto for consumido.

Amamentação é direito e está na lei

  • Todas as mães têm o direito de amamentar seus filhos.
  • No trabalho, em casa e até quando estão privadas de liberdade, elas têm direito a alimentar o seu filho no peito.
  • O aleitamento materno é também um direito da criança.
  • O artigo 9º do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é dever do governo, das instituições e dos empregadores garantir condições propícias ao aleitamento materno.
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Carla Chein
Carla Chein
Carla Chein é jornalista com pós-graduação em jornalismo científico. Tem experiência em jornal impresso e como professora no curso de jornalismo. E-mail: carla.chein@paponoconsultorio.com.br

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