Saiba por que o homem deve ir ao médico
“Temos que quebrar esse paradigma de que tratamos só pessoas doentes”
A saúde do homem, assim como a da mulher, precisa ser pensada preventivamente. Ele deve realizar consultas de tempo em tempo para avaliar sua saúde, mesmo que sintomas específicos não estejam aparentes. O alerta é feito pelo médico clínico Paulo Mascarenhas Mendes, vice-presidente da SBCM – Sociedade Brasileira de Clínica Médica, regional Minas Gerais.
Mendes lembra que, culturalmente, as brasileiras procuram seu ginecologista para a realização de exames preventivos todo ano. Assim, elas acabam tendo um respaldo nesses médicos para outras queixas diversas.
Os homens, em contrapartida, não têm esse hábito. “Eles procuram o serviço médico, usualmente, em sua porta de emergência, apenas nas situações de doenças sintomáticas já instaladas”, compara Mendes. Abaixo, ele fala sobre a importância da prevenção, especificamente no caso dos homens, por causa do Novembro Azul – campanha que alerta para os cuidados com a saúde do homem.
O médico cita exemplos que explicam por que o homem de 18 anos ou mais deve ir com frequência ao médico, mesmo que não tenha nenhum sintoma aparente. “Apesar de adultos, precisamos tanto de cuidados e avaliações continuadas como nossos filhos, que levamos ao pediatra periodicamente”, afirma.
Por que é importante para a saúde do homem ir ao médico antes de apresentar sintomas?
As condições de estresse que experimentamos em nosso cotidiano, cada vez mais comuns, tornam situações outrora menos frequentes cada vez mais prevalentes. Como os maus hábitos alimentares, o sedentarismo e as situações de dependência química (seja álcool, tabaco ou drogas ilícitas). Tudo isso torna a saúde do brasileiro cada vez mais débil.
Muitas das condições de saúde (do homem) mais prevalentes começam de forma insidiosa e silenciosa, sem alarde, até que um quadro mais avançado se desenvolva. Dessa forma, indivíduos hipertensos, dislipidêmicos (colesterol elevado) e diabéticos podem não manifestar sintoma algum até terem um infarto cardíaco fulminante.
A partir de que idade é preciso ter mais atenção à saúde do homem?
Recomenda-se que, a partir dos 18 anos, o indivíduo adquira o hábito de anualmente consultar um clínico de confiança, mesmo sem queixas específicas. Ele deve passar por avaliações específicas e por um aconselhamento individualizado.
Quais exames ele deve fazer como rotina?
Os exames solicitados dependem de variáveis subjetivas, como idade, histórico pessoal e familiar, estilo de vida etc. Existem alguns exames solicitados de forma mais corriqueira, como hemograma (para definir presença de anemia, alterações de plaquetas ou de leucócitos), creatinina, ureia e rotina de urina (para avaliar a função renal), glicemia de jejum (possibilidade de diabetes ou intolerância a carboidratos), colesterol e triglicérides (avaliar dislipidemias).
Outros, mais específicos, dependem de situações intrínsecas a determinado paciente. Não faz sentido, por exemplo, solicitar teste ergométrico aleatório para um paciente jovem, atleta e sem queixas. Mas é um exame fundamental para um senhor de 55 anos, sedentário, tabagista inveterado, hipertenso, que vem apresentando dor no peito de forma esporádica.
Da mesma forma, não há sentido solicitar avaliação tireoideana de todos os pacientes, a não ser que haja algum sintoma ou histórico familiar. Medidas antropométricas, como peso, altura, IMC (índice de massa corporal), além de dados vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória), devem ser aferidos a cada consulta.
Como prevenção, ajuda fazer um check-up anual?
A ideia de um check-up genérico foge muito do que é pregado atualmente pela medicina que temos praticado, quase sempre baseada na melhor evidência científica disponível na literatura.
O homem está mais suscetível a doenças a partir de que idade?
Dependendo da condição do paciente, indivíduos de 20 e poucos anos podem estar correndo risco de eventos adversos. É importante levantarmos um rigoroso histórico pessoal e familiar da saúde do homem. Várias condições carregam risco hereditário aumentado. Um homem obeso de 28 anos, tabagista pesado, sedentário, dislipidêmico e com histórico de pai falecido de infarto do miocárdio aos 50 anos carrega consigo um risco cardiovascular muito aumentado.
No outro extremo, um senhor de 55 anos, atleta, que nunca fumou, que mantém dieta balanceada e sem histórico familiar de doença cardiovascular precoce tem risco muito mais baixo de desenvolver doença coronariana aguda. Da mesma forma, indivíduos com forte histórico familiar de neoplasia de próstata ou cólon deveriam iniciar acompanhamento precoce. Aí, sim, há necessidade de exames complementares específicos mais cedo do que seus pares sem histórico familiar significativo.
Durante este mês, na campanha do Novembro Azul, alerta-se para a prevenção do câncer de próstata. Quando se deve fazer a primeira avaliação da próstata?
No geral, recomenda-se que homens acima de 50 anos consultem o urologista para uma primeira avaliação da próstata. Aqueles com histórico de neoplasia na família devem iniciar a pesquisa mais cedo, antes dos 45 anos. É importante ressaltar que o “screening” contempla a avaliação médica através do toque retal e do exame de sangue (PSA). O conjunto é muito mais efetivo que cada um deles isolado.
Na área urológica, é ainda muito importante a consciência corporal do indivíduo. Desde jovem, ele deveria fazer avaliação regular de seus testículos, em uma analogia ao que é recomendado para as mulheres com relação às mamas. O câncer de testículo é uma doença potencialmente curável quando diagnosticada precocemente.
A partir dos 50 anos há outros cuidados a serem observados?
Também para aqueles homens com mais de 50 anos recomenda-se pesquisa anual de sangue oculto nas fezes, e, quando positivo, colonoscopia (ou a critério de seu médico assistente), a fim de diagnosticar precocemente qualquer doença neoplásica dos cólons.
Ressalta-se também o fator hereditário para tal situação, recomendando-se uma investigação mais precoce e minuciosa (colonoscopia antes dos 45 anos) para os indivíduos cujos parentes próximos foram acometidos adenocarcinoma colorretal.
O que é importante dizer para o homem que se recusa a ir ao médico sem apresentar sintoma?
Apesar de adultos, precisamos tanto de cuidados e avaliações continuadas como nossos filhos, que levamos ao pediatra periodicamente quase que de forma automática. Temos uma enorme tendência a nos acharmos autossuficientes, intocáveis. Falo isso como médico teimoso que custa a procurar um colega para pedir ajuda. Temos que quebrar esse paradigma de que médico trata apenas indivíduos doentes. Pelo contrário, o nosso maior objetivo é manter nossos pacientes saudáveis.
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