Fazer o diagnóstico correto de depressão é essencial para a condução adequada da intervenção terapêutica. Embora o mais comum seja o transtorno depressivo maior, há outros tipos de depressão, cada um com sua especificidade. Um estudo publicado em junho na revista científica “Nature Medicine” elencou seis subtipos de depressão e ansiedade, baseados em imagens de ressonância magnética e inteligência artificial. Segundo os autores, o achado poderá ser útil para auxiliar no diagnóstico e prever o melhor tratamento para cada subtipo da doença. Ou seja, o estudo reforça que o tratamento individualizado pode ajudar contra a depressão.
Participaram da pesquisa 801 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade. Elas foram submetidas a uma ressonância magnética funcional – um exame bem específico para análise da ativação de áreas das estruturas cerebrais, que não está na rotina da psiquiatria. Os voluntários tiveram sua atividade cerebral avaliada em repouso e durante exercícios para análises cognitivas e funcionais. Eles foram comparados com 137 pessoas saudáveis (grupo controle).
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Os autores se concentraram, então, em avaliar imagens de regiões específicas do cérebro, conhecidas por desempenhar algum papel na depressão. Com ajuda de inteligência artificial, eles conseguiram mapear seis padrões distintos de atividades cerebrais nessas áreas.
Em seguida, 250 participantes aleatórios receberam um dos três antidepressivos mais comuns no tratamento da doença ou foram encaminhados para a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa psicoterapia leva em consideração diversos aspectos do paciente e como ele reage a determinadas situações. Os medicamentos usados foram escitalopram, sertralina e venlafaxina. Os autores queriam verificar se havia mudança na resposta ao tratamento de acordo com o subtipo da depressão baseado nas atividades cerebrais. Isso reforçaria que o tratamento individualizado pode ajudar contra a depressão.
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Eles não só constataram que sim, mas também que as diferenças dos subtipos se correlacionavam com os diversos sintomas relatados pelos voluntários. “Esse estudo pretende trazer uma diferenciação um pouco mais específica, mais minuciosa, para auxiliar no diagnóstico da depressão. Ele tenta trazer mais especificidades para o transtorno depressivo que hoje chamamos de ‘maior'”, analisa o psiquiatra Daniel Oliva, da Gerência de Bem-Estar e Saúde Mental do Hospital Israelita Albert Einstein. “A partir do momento em que temos essas especificações baseada nas características, conseguimos oferecer um tratamento mais certeiro para os pacientes”.
A depressão é um problema que afeta cerca de 320 milhões de pessoas no mundo, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Seu diagnóstico, no entanto, é essencialmente clínico.
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“Hoje em dia, para diagnosticarmos o transtorno depressivo, fazemos uma análise da biografia do indivíduo, dos sintomas relatados, das características psicológicas, do histórico familiar e do perfil genético. Vários fatores são avaliados para entendermos qual o transtorno psiquiátrico em si. A apresentação e a combinação de cada um desses itens vão guiar nosso diagnóstico para indicarmos o melhor tratamento”, explica Oliva.
Como é o tratamento da depressão?
O problema é que cerca de 30% dos pacientes são resistentes ao tratamento, ou seja, não conseguem melhorar os sintomas mesmo depois de ao menos duas tentativas de trocas de medicamentos. E, para até dois terços das pessoas com depressão, o tratamento não consegue reverter totalmente os sintomas para os níveis considerados saudáveis.
O método de escolha terapêutica hoje em dia se baseia em tentativa e erro, o que pode levar meses até chegar num medicamento eficaz – daí a importância do diagnóstico correto e individualizado. Mas, segundo Oliva, já existem alguns testes farmacogenéticos que avaliam como o metabolismo do paciente se relaciona com as medicações, auxiliando os médicos na prática clínica sobre quais medicações seguir com determinado indivíduo.
Importância do tratamento individualizado contra a depressão
“Ainda é o método de tentativa e erro, mas não é uma batalha naval baseada na sorte, onde escolhemos qualquer medicação. Além do que temos de evidência científica para cada tipo de transtorno e da experiência clínica dos profissionais, existem diferentes testes, com diferentes graus de confiabilidade, que já nos orientam para um determinado caminho. A proposta desse estudo é oferecer uma sofisticação ainda maior para isso, identificando subtipos de depressão com base nos circuitos cerebrais ativados”, afirma o psiquiatra.
Na avaliação de Oliva, é fundamental que a medicina consiga apontar qual o circuito cerebral afetado na doença para entender melhor o diagnóstico, o tratamento e até o prognóstico da depressão – ou seja, o que esperar de cada subtipo. E o estudo, portanto, contribui para entender como o tratamento individualizado pode ajudar contra a depressão. “É uma visão que vai se aperfeiçoando para entendermos e conduzirmos melhor o paciente. Lembrando que isso ainda é um estudo, não é uma designação, mas cada vez mais vamos fechando o círculo em torno dos melhores agentes terapêuticos que podem ajudar no tratamento da depressão”, finaliza Oliva.
O que é depressão
É um problema médico grave e altamente prevalente na população em geral. De acordo com estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%.
De acordo com a OMS, a depressão ocupa o 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos prejuízos acarretados por todas as doenças durante a vida. Ocupa 1º lugar quando considerado o tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%). A época comum do aparecimento é o final da 3ª década da vida, mas pode começar em qualquer idade.
Fatores de risco para a depressão
- Histórico familiar;
- Transtornos psiquiátricos correlatos;
- Estresse crônico;
- Ansiedade crônica;
- Disfunções hormonais;
- Dependência de álcool e drogas ilícitas;
- Traumas psicológicos;
- Doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasias entre outras;
- Conflitos conjugais;
- Mudança brusca de condições financeiras e desemprego.
Causas da depressão
- Genética: Estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão;
- Bioquímica cerebral: Há evidencias de deficiência dos neurotransmissores (noradrenalina, serotonina e dopamina) que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor;
- Eventos vitais: Eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos naqueles que têm predisposição genética para a doença.
Quais são os sintomas da depressão?
- Humor depressivo: Sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Tudo parece vazio, o mundo é visto sem cores, sem matizes de alegria. Muitos se mostram mais apáticos do que tristes, referindo “sentimento de falta de sentimento”. Julgam-se um peso para os familiares e amigos, invocam a morte como forma de alívio para si e familiares. Fazem avaliação negativa acerca de si mesmo, do mundo e do futuro. Percebem as dificuldades como intransponíveis, tendo o desejo de por fim a um estado penoso. Os pensamentos suicidas variam desde o desejo de estar morto até planos detalhados de se matar. Esses pensamentos devem ser sistematicamente investigados;
- Retardo motor, falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo, lentificação do pensamento, falta de concentração, queixas de falta de memória, de vontade e de iniciativa;
- Insônia ou sonolência: A insônia geralmente é intermediária ou terminal. A sonolência está mais associada à depressão atípica;
- Apetite: Geralmente diminuído, podendo ocorrer em algumas formas de depressão aumento do apetite, com maior interesse por carboidratos e doces;
- Redução do interesse sexual;
- Dores e sintomas físicos difusos: Mal-estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardiae/ou sudorese.
Quais são os tipos de depressão?
O DSM-5 (Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais), principal guia de diagnósticos psiquiátricos, classifica os transtornos depressivos em seis tipos de transtorno:
- Depressivo maior, que tem outras especificidades de acordo com a apresentação;
- Persistente ou distimia;
- Disruptivo de desregulação do humor;
- Disfórico pré-menstrual;
- Induzido por substância/medicação; e
- Devido a outra condição médica.
Como é o diagnóstico de depressão?
O diagnóstico da depressão é clínico, feito pelo médico após coleta completa da história do paciente e realização de um exame do estado mental. Não existem exames laboratoriais específicos para diagnosticar depressão.
Como prevenir a depressão?
- Manter um estilo de vida saudável, tendo uma dieta equilibrada e praticando atividade física regularmente;
- Combater o estresse concedendo tempo na agenda para atividades prazerosas;
- Evitar o consumo de álcool e de drogas ilícitas;
- Diminuir as doses diárias de cafeína;
- Ter uma rotina de sono regular;
- Não interromper tratamento sem orientação médica.
Como é o tratamento da depressão?
A depressão é uma doença de elevada prevalência e é a mais associada ao suicídio. Tende a ser crônica e recorrente, principalmente quando não é tratada. O tratamento é medicamentoso e psicoterápico. A escolha do antidepressivo é feita com base no subtipo da depressão, nos antecedentes pessoais e familiares, na boa resposta a uma determinada classe de antidepressivos já utilizada, na presença de doenças clínicas e nas características dos antidepressivos.
Entre 90% e 95% dos pacientes apresentam remissão total com o tratamento antidepressivo. No entanto, é de fundamental importância a adesão ao tratamento, uma vez interrompido por conta próprio ou uso inadequado da medicação, pode aumentar significativamente o risco de cronificação. Na rede pública de saúde, o tratamento pode ser realizado na Atenção Primária, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nos ambulatórios especializados.
Fontes: Agência Einstein e Ministério da Saúde