O vírus sincicial respiratório (VSR) é a principal causa de internação em crianças no mundo. Dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde, indicam que o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias nos pequenos menores de 2 anos.
Ele é altamente contagioso e tem um comportamento sazonal, com maior circulação no outono e no inverno. “É um vírus que causa doenças graves em crianças pequenas e gera grande demanda de serviços de saúde”, observa o infectologista Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunização do Hospital Israelita Albert Einstein.
Estratégias
Então, no último dia 13 de fevereiro, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) recomendou a incorporação de duas novas tecnologias contra o VSR no sistema público de saúde: o anticorpo monoclonal nirsevimabe e uma vacina para gestantes. “Essas estratégias de prevenção são muito importantes, pois reduzem o risco de desenvolver doença grave e de precisar de atendimento médico”, avalia Gilio.
De acordo com o Ministério da Saúde, os estudos apresentados à Conitec mostram que a vacina para grávidas pode evitar aproximadamente 28 mil internações anuais. Combinada à aplicação do nirsevibame, a estratégia poderá proteger cerca de 2 milhões de bebês nos primeiros meses de vida, os mais vulneráveis a complicações.
A medida faz parte de uma estratégia para reduzir a mortalidade infantil associada ao vírus, por meio da imunização ativa de gestantes e bebês prematuros.
Ministério da Saúde em nota
Entre 2018 e 2024, houve 83.740 internações de prematuros (nascidos com menos de 37 semanas) devido a problemas relacionados ao VSR, como bronquite, bronquiolite e pneumonia, de acordo com a pasta.
Saiba mais sobre as estratégias contra o VSR:
Vacina para a gestante
Já disponível na rede privada, o imunizante que será incorporado ao SUS é o Abrysvo, da farmacêutica estadunidense Pfizer. Com a imunização, a mãe passa seus anticorpos ao bebê dentro do útero, de modo que ele já nasce protegido.
No Brasil, a vacina— aplicada em apenas uma dose — pode ser dada entre a 24ª e a 36ª semana de gestação. Para fazer efeito, porém, a imunização deve ocorrer no mínimo duas semanas antes do parto.
Estudos mostram que a vacina tem uma proteção contra doença grave de 85% nos primeiros 90 dias de vida do bebê. Esse índice se mantém em 74% até 5 meses e em 59% aos 6 meses. Ela também reduz em cerca de 57% a necessidade de atendimento médico.Ainda faltam mais pesquisas sobre a proteção à medida que a criança cresce.
Anticorpo para os bebês
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023, o nirsevimabe, da farmacêutica francesa Sanofi, acaba de chegar oficialmente ao Brasil. A expectativa é de que esteja disponível na rede privada já a partir de março.
É indicado para bebês prematuros, recém-nascidos a termo de até 12 meses e crianças de até 2 anos com comorbidades. Trata-se de uma estratégia de imunização passiva: a criança recebe diretamente os anticorpos contra o vírus, sem a necessidade de produzi-los após a infecção.
A proteção dura entre cinco e seis meses. O nirsevimabe pode ser uma opção para crianças que tenham recebido os anticorpos da mãe ao nascer, mas que tenham fatores de risco para doença gravequando entrarem em contato com o vírus novamente.
Em bebês, os principais fatores de risco são prematuridade e a presença cardiopatias. No entanto, uma alta taxa de complicações ocorre em crianças saudáveis com até 2 anos de idade.
Idosos em perigo
Os mais velhos também correm risco de sofrer complicações se infectados pelo VSR. Para esse grupo, há duas opções de vacinas: a Abrysvo, da Pfizer, e a Arexvy, da farmacêutica britânica GSK, aprovada pela Anvisa no fim de 2023.
Aplicados em dose única, esses imunizantes carregam proteínas do vírus que servem como alvos para o sistema imune ao produzir anticorpos, sem causar doença. Disponíveis para idosos apenas na rede privada, recomendam-se ambas a pessoas de 60 a 69 anos que tenham comorbidades e todos a partir dos 70 anos.
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VSR e bronquiolite
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o VSR figura como um dos principais vírus associados à bronquiolite, quadro caracterizado pela inflamação dos bronquíolos – pequenas e finas ramificações dos brônquios que transportam o oxigênio até o tecido pulmonar.
Segundo a SBIm, o vírus circula com maior intensidade no inverno e no início da primavera, períodos em que pode causar epidemias. No Brasil, a sazonalidade do VSR varia conforme as diferentes regiões do país. Surtos em outras estações do ano, entretanto, não são incomuns, sobretudo em países de clima tropical.
“Quase todas as crianças são infectadas com VSR pelo menos uma vez até os 2 anos de idade. Recorrências em outros momentos da vida são comuns, uma vez que a infecção não proporciona imunidade completa, mas, em geral, são menos graves”, destaca a SBIm.
De acordo com a SBIm, algumas condições crônicas aumentam o risco de infecção grave por VSR: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a asma; doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca congestiva e doença arterial coronariana; imunocomprometimento moderado ou grave; diabetes mellitus; distúrbios renais e hepáticos; e distúrbios hematológicos.
Transmissão
O contágio ocorre por contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas, pela inalação de gotículas de tosse ou espirros. A transmissão começa dois dias antes de aparecerem os sintomas e só termina quando a infecção está completamente controlada. O período de maior contágio é nos primeiros dias da infecção.
A doença pode ser leve ou assintomática, mas também é capaz de levar a um grave comprometimento do trato respiratório, com risco de morte. A bronquiolite é a complicação mais comum. Ela se caracteriza por uma inflamação dos bronquíolos, o que provoca obstruções que causam dificuldades respiratórias e um chiado característico que pode permanecer por meses.
Sintomas
A maioria das crianças infectadas pelo VSR apresenta sintomas leves, geralmente semelhantes aos de um resfriado comum. Em menores de 2 anos, entretanto, a infecção pode evoluir para sintomas mais graves e associados à bronquiolite.
Inicialmente, há coriza, tosse leve e, em alguns casos, febre. Em um a dois dias, pode haver piora da tosse, dificuldade para respirar, aumento da frequência respiratória – com chiado a cada expiração – e dificuldade para mamar e deglutir. Como sinal da menor oxigenação, pode haver azulamento de dedos e lábios.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico, de acordo com a SBIm, é clínico, mas a identificação e a confirmação de infecção por VSR são feitas somente por meio de exames laboratoriais, incluindo testes rápidos e ensaios moleculares, como PCR-RT, que detectam o antígeno viral.
“Não há tratamento específico para o VSR. Diante de um quadro grave, é imprescindível a hospitalização para oxigenoterapia e outras medidas de suporte. Pode ser necessário o uso de respiradores mecânicos, em ambiente de UTI (unidade de terapia intensiva)”, destacou a entidade.
“A maioria dos pacientes inicia a recuperação em cerca de sete dias e se restabelece totalmente. Entretanto, crianças podem desenvolver alterações respiratórias crônicas e tornam-se mais propensas à asma no futuro”, completou a SBIm.
Fontes: Agência Einstein e Agência Brasil
*Atualizada em 25 de fevereiro de 2025 para incluir informações sobre a relação entre o VSR e a bronquiolite, sintomas e tratamento.