Esquecimento sempre significa Alzheimer?
A redução da memória é um sintoma intrínseco ao envelhecimento. Assim como a pele, o cérebro também sente o passar dos anos. Mas o esquecimento deve ligar o nosso alerta quando passa a atrapalhar a vida do idoso, diz a neurologista Jerusa Smid, secretária do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “Ele passa a ser um problema quando interfere nas atividades diárias, como a conta bancária”, exemplifica. E esse problema pode ser a doença de Alzheimer.
Se atrapalha a vida do idoso, a resposta pode ser sim; neurologista dá dicas de prevenção e fala sobre os fatores de risco.
Aproveito este 21 de setembro, quando se comemora o Dia Mundial de Doença de Alzheimer, e reúno aqui no Papo no Consultório algumas informações que podem ajudar a entender melhor um pouco essa doença neurodegenerativa de causas ainda desconhecidas. Em tempo, a data foi escolhida em 1994 pela OMS para conscientizar a população sobre o problema.
O alerta da Associação Internacional de Alzheimer já é conhecido entre os médicos: a doença é a principal causa de demência no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, só no Brasil, ela atinge cerca de 1,2 milhão de pessoas. Mas a tendência é esse número crescer com o aumento da população idosa. Jerusa Smid explica que a prevalência da demência duplica a cada cinco anos depois dos 65 anos de idade.
Fases do Alzheimer
De acordo com a ABN, a doença pode ser dividida em pelo menos três estágios: leve, moderado e avançado. No início, os sintomas de esquecimento são atribuídos ao envelhecimento. Mas, aos poucos, ocorre piora da memória, com repetitividade excessiva, dificuldade em se guardar recados e se manter atualizado. Surgem, ainda, dificuldades para realizar tarefas complexas, como cuidar de finanças, como Jerusa Smid explicou.
Na fase moderada, passa a ser necessária a ajuda em atividades corriqueiras, como se vestir e sair de casa. Na etapa final, quando o Alzheimer está em estado avançado, o paciente já não consegue mais tomar banho, comer sozinho nem cuidar da higiene. Como o Alzheimer é uma doença sem cura, o tratamento pode ajudar a controlar e a reduzir os sintomas. As alternativas incluem medicamentos, reabilitação cognitiva, terapia ocupacional e atividade física regular, além dos controles de pressão alta, diabetes e colesterol.
Como principal recomendação, fica o alerta: se a pessoa perceber que a memória piorou em um intervalo de seis meses a um ano, deve procurar fazer avaliação com um especialista. Isso vale também para o familiar do idoso. “O importante é prestar atenção em cada sinal e procurar imediatamente o médico, pois o Alzheimer é uma doença progressiva e não tem cura. E é responsável por 50% a 60% dos casos de demência”, orienta Michelly Siqueira, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, regional Minas Gerais (Abraz-MG).
8 fatores de risco
- O principal fator de risco é a idade. São raros os casos que ocorrem antes dos 60 anos e que têm causas genéticas.
- Escolaridade. O risco aumenta duas vezes para o analfabeto.
- Perda auditiva adquirida no adulto de 45 a 65 anos.
- Tabagismo.
- Diabetes.
- Sedentarismo.
- Depressão.
- Sexo feminino.
Fonte: Neurologista Jerusa Smid, secretária do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)
Dez sinais que podem ajudar no diagnóstico
- Perda de memória, especialmente de acontecimentos mais recentes.
- Dificuldade em executar tarefas do cotidiano, como usar o telefone ou cozinhar.
- Desorientação, não identificando a data, a estação do ano nem o local onde se encontra.
- Problemas de discernimento, como dificuldade em se vestir de acordo com a estação do ano, por exemplo.
- Problemas de linguagem, como esquecimento de palavras simples associado à dificuldade de compreensão da fala e da escrita.
- Repetir conversas ou tarefas, devido ao esquecimento constante.
- Trocar o lugar das coisas, como colocar o ferro de passar roupa na geladeira, por exemplo.
- Alteração brusca do humor sem razão aparente.
- Alteração na personalidade de modo a se identificar na pessoa apatia, confusão, agressividade ou desconfiança.
- Perda de iniciativa, com características de desinteresse pelas atividades habituais, apresentado apatia.
Fonte: Alzheimer’s Disease Internacional
5 dicas de prevenção
- Cuide de seu coração. Prevenindo os fatores de risco para as doenças cardiovasculares – como colesterol alto, diabetes e hipertensão arterial -, você também ajuda o seu cérebro.
- Faça uma atividade física como rotina.
- Siga uma dieta saudável. Já está comprovado que a dieta mediterrânea, rica em ômega 3, previne a demência.
- Estimule seu cérebro. Tenha sempre estímulos cognitivos. Aprenda um novo idioma, a tocar um instrumento, a dançar. E faça palavras cruzadas.
- Mantenha-se socialmente ativo. Não se isole do mundo. Participe das festas de família, das reuniões de condomínio. Circule nos meios sociais.
Fonte: Neurologista Jerusa Smid, secretária do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)
Veja as principais dúvidas
Doença
É transmitida geneticamente?
Existem estudos que mostram mutações genéticas e a história familiar pode ser um fator de risco. Entretanto, devem-se considerar outros aspectos. O fato de ter pai/mãe com a doença não quer dizer que se terá a doença. Isso, pois, é considerado apenas um fator de risco. Isto é, se o pai teve, não necessariamente o filho terá.
Há cura?
Muitos estudos científicos buscam a cura mas, até o momento, não há previsão de cura. Portanto, os tratamentos disponíveis buscam retardar o desenvolvimento da doença, que é progressiva. É importante ressaltar que, quando se inicia o tratamento logo na primeira fase da doença, os resultados tendem a ser mais efetivos.
O primeiro sintoma é sempre a perda da memória?
É comum que a perda de memória seja o primeiro sintoma a ser percebido, mas não necessariamente é o primitivo que se manifesta. Outros sintomas podem aparecer logo no início da doença como a instabilidade emocional, mudanças comportamentais, dificuldades de concentração ou motoras, e dificuldade de tomar decisões e de realizar tarefas que eram fáceis de se executar anteriormente. Esses sintomas podem ser confundidos com estresse ou fadiga, dificultando, assim, sua identificação. Ao perceber mudanças e perdas, é importante que o paciente passe por uma avaliação médica com um clínico geral ou que procure especialistas em neurologia, geriatria e psiquiatria.
Diagnóstico
Quais exames se pedir quando existe a suspeita?
- Exames laboratoriais: hemograma completo, sódio, potássio, ureia, creatinina, vitamina B12.
- Exames de imagem: tomografia computadorizada, ressonância magnética, eletroencefalograma, Spect.
Outros exames devem ser realizados para excluir a possibilidade de outras doenças. Faz parte da bateria de exames complementares uma avaliação aprofundada das funções cognitivas. A avaliação neuropsicológica envolve o uso de testes psicológicos para a verificação do funcionamento cognitivo em várias esferas. Os resultados, associados aos dados de história e observação do comportamento do paciente, permitem identificar a intensidade das perdas em relação ao nível prévio e o perfil de funcionamento permite a indicação de hipóteses sobre a presença da doença.
O que é teste neuropsicológico, quem o aplica e onde?
A avaliação neuropsicológica compreende uma bateria de testes psicológicos para verificação de funcionamento cognitivo e deve ser feita por psicólogos especializados nessa área. O teste tem duração de cinco horas, em média. São aplicados instrumentos que avaliam memória, capacidade de planejamento, linguagem, atenção e outras funções cognitivas, com o objetivo de:
- Auxiliar no diagnóstico.
- Planejar estimulação cognitiva.
- Orientar as famílias quanto às atividades, autonomia, decisões e riscos envolvidos na rotina do paciente.
O diagnóstico é 100% certo?
Não. Na prática, o diagnóstico é clínico, isto é, depende da avaliação feita por um médico que irá definir, a partir da história e de exames, qual a principal hipótese para a causa de demência. A eficácia do tratamento também reforça a hipótese do diagnóstico. A certeza do diagnóstico só pode ser obtida através do exame microscópico do tecido cerebral, procedimento que, por apresentar riscos ao paciente, costuma ser indicado apenas em situações muito específicas. O exame pós-morte, raramente realizado, confirmaria com 100% de certeza.
Tratamento e prevenção
Exercícios que estimulem o raciocínio ajudam a evitar o declínio da memória?
Sim. Por exemplo, jogos, palavras cruzadas, sudoku e outros exercícios que desafiam e estimulam cognitivamente o paciente com doença de Alzheimer podem ajudar no tratamento.
Posso alterar a dose dos remédios para aumentar o efeito?
Não. Além disso, não administre outros medicamentos sem conhecimento prévio e consentimento do médico responsável, pois há risco de interações medicamentosas, ou seja, interferência no efeito dos medicamentos habituais.
Qual o efeito de produtos naturais e receitas caseiras no tratamento da doença de Alzheimer?
Então, não há comprovação científica do efeito desses produtos. Relatos de curas milagrosas são tentadores, mas cuidado! Não há cura. Portanto, é preciso aceitar essa condição para tratar o doente.
Fonte: Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz)
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