21 - novembro - 2024
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O aspartame pode ou não ser consumido? É cancerígeno ou não?

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OMS classifica adoçante aspartame como possível cancerígeno
Divulgada nova classificação do adoçante aspartame. Crédito: Imagem de jcomp no Freepik


A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o aspartame como possível cancerígeno, mas seu consumo foi considerado seguro, desde que respeitado um limite diário. A nova classificação provocou posicionamentos diferentes de autoridades sanitárias no Brasil e gerou dúvidas entre a população. Aqui vou tentar esclarecer: afinal, o aspartame pode ou não ser consumido?


O aspartame é um adoçante artificial muito usado na indústria alimentícia, sobretudo em alimentos e bebidas declarados de baixa caloria, e adotado por pessoas que vivem com diabetes tipo 2 para controlar o consumo de açúcar. A substância foi alvo de análise de dois grupos dentro da OMS: a  Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês) e o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização para Agricultura e Alimentação (JECFA, na sigla em inglês).


Na última quinta-feira (13 de julho), a OMS publicou os resultados dessas avaliações,  classificando o aspartame como possivelmente carcinogênico (ou seja, capaz de causar câncer) para humanos (Grupo 2B), mas considerando aceitável o limite atual de ingestão diária (40 mg/kg de peso corporal).


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), considera que, até o momento, não há alteração do perfil de segurança para o consumo do aspartame e diz que seguirá acompanhando atentamente os avanços da ciência a respeito do tema. Já o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou posicionamento recomendando pelo não consumo da substância.


Afinal, o aspartame pode ou não ser consumido?


Mas o aspartame pode ou não ser consumido? O médico oncologista André Murad, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) critica o pânico causado em torno do assunto. “A questão não é a carcinogênese (do aspartame), mas a eficácia de forma geral dos adoçantes (artificiais)”, alerta.


“Na minha opinião, essa polêmica não tem  muito sentido já que os adoçantes não vêm cumprindo os objetivos para os quais foram desenvolvidos”, afirma. Segundo ele, estudos mostram que os adoçantes não têm a eficácia esperada, que é evitar o pico glicêmico após o consumo de açúcar natural no organismo do paciente que tem diabetes tipo 2. O melhor, recomenda, é evitar o consumo de  açúcar e adoçantes e dar preferência ao sabor dos alimentos naturais.


O professor da Faculdade de Medicina da UFMG diz, ainda, que o bacon é muito mais cancerígeno. Questionado sobre o limite diário de consumo de bacon, ele é enfático: “Zero”. Murad explica que alimentos ultraprocessados como o bacon possuem em sua composição nitrito e nitrato, substâncias que, no estômago do ser humano, se transformam em nitrosamina – altamente cancerígena.


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Os resultados dos dois estudos da OMS


A chefe da Iarc, May Schubauer-Berigan, disse que a decisão tem como base evidências limitadas, para apenas um tipo de câncer de fígado. E que trata-se mais de um apelo à comunidade científica para fazer mais estudos.


Já o JECFA considerou que não há evidências suficientes de que o aspartame cause dano à saúde. E manteve o limite de consumo diário de até 40 miligramas por quilo de peso corporal. Por exemplo: uma lata de refrigerante diet contém entre 200 mg e 300 mg de aspartame. Um adulto pesando 70 kg precisaria consumir de 9 a 14 latas por dia para exceder a ingestão diária aceitável (considerando não haver ingestão da substância em outros alimentos).


Os dois órgãos conduziram revisões independentes, mas complementares, para avaliar o potencial risco carcinogênico e outros riscos à saúde do consumo da substância, para recomendar se o aspartame pode ou não ser consumido. Esta foi a primeira vez que a Iarc avaliou o aspartame e a terceira vez que o JECFA realizoua avaliação. Depois de revisar a literatura científica disponível, ambas as avaliações observaram limitações nas evidências disponíveis em relação ao câncer e também a outros efeitos na saúde.


OMS defende uso moderado


O chefe de nutrição da OMS, Francesco Branca, explicou que a recomendação é moderar tanto o consumo de açúcar quanto de adoçantes. E que, na dúvida entre um refrigerante normal e um diet, devemos sempre considerar uma terceira opção, que é beber água.


A OMS pede que as pessoas considerem outras formas de reduzir a ingestão de açúcar, como consumir frutas e outros alimentos naturalmente adoçados, além de alimentos e bebidas sem nenhum tipo de açúcar.

“A recomendação se aplica a todas as pessoas, exceto indivíduos com diabetes pré-existente, e inclui todos os adoçantes sintéticos, naturais ou modificados não classificados como açúcares encontrados em alimentos e bebidas industrializados ou vendidos separadamente em alimentos e bebidas.”


Ainda segundo a OMS, a recomendação não se aplica a produtos de higiene e higiene pessoal que contenham adoçante, como creme dental, creme para a pele e medicações.


O que é o aspartame


O aspartame é um adoçante artificial (químico) amplamente utilizado em vários alimentos e bebidas desde a década de 1980. Pode estar em bebidas dietéticas, goma de mascar, cremes vegetais, alimentos para controle de peso etc.


É um aditivo alimentar com as funções de edulcorante (confere sabor doce) e de realçador de sabor (ressalta ou realça o sabor/aroma). Esse edulcorante possui poder adoçante 200 vezes maior do que o açúcar. Por essa razão, é necessário um volume muito menor de aspartame para a obtenção do mesmo efeito da sacarose.


Aspartame no Brasil


No Brasil, o uso de edulcorantes deve ter autorização da Anvisa, que realiza as avaliações de segurança, inclusive com a definição de limites máximos. A agência faz essa avaliação com base nas diretrizes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da OMS. As funções tecnológicas, os limites máximos e as condições de uso dos aditivos aprovados no país estão estabelecidos na Instrução Normativa 211/2023.


O aspartame, portanto, vem sendo objeto de extensa investigação, incluindo estudos experimentais, pesquisas clínicas, estudos epidemiológicos e de exposição e vigilância pós-mercado. Existe um consenso entre diversos comitês internacionais no sentido de considerar o aspartame seguro, quando consumido dentro da ingestão diária aceitável.


As classificações de alimentos cancerígenos


  • Grupo 1: O agente é carcinogênico para humanos. Nesta categoria há evidência suficiente de carcinogenicidade em humanos. A avaliação geralmente tem como base os resultados de estudos epidemiológicos que mostram o desenvolvimento de câncer em humanos expostos. Os agentes também podem estar no Grupo 1 com base em evidências suficientes de carcinogenicidade em animais apoiadas por fortes evidências em humanos expostos de que o agente exibe uma ou mais das principais características reconhecidas de carcinógenos humanos.

  • Grupo 2A: O agente é provavelmente carcinogênico para humanos. Nesta categoria há pelo menos duas das seguintes avaliações, incluindo pelo menos uma que envolva humanos ou células ou tecidos humanos: evidência limitada de carcinogenicidade em humanos ou evidência suficiente de carcinogenicidade em animais experimentais ou forte evidência mecanicista, mostrando que o agente exibe características-chave de carcinógenos em humanos. Esta categoria também classifica produtos quando não há evidências sobre carcinogenicidade em humanos, mas evidências suficientes de carcinogenicidade em animais experimentais e forte evidência mecanicista em células ou tecidos humanos.

  • Grupo 2B: O agente é possivelmente carcinogênico para humanos. Nesta categoria há pelo menos uma das seguintes avaliações: evidência limitada de carcinogenicidade em humanos ou evidência suficiente de carcinogenicidade em animais experimentais ou forte evidência mecanicista, mostrando que o agente exibe características-chave de carcinógenos humanos.

  • Grupo 3: O agente não é classificável quanto à sua carcinogenicidade para humanos. Em linhas gerais, as informações disponíveis sugerem um efeito carcinogênico, mas não são conclusivas em animais experimentais.
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Carla Chein
Carla Chein
Carla Chein é jornalista com pós-graduação em jornalismo científico. Tem experiência em jornal impresso e como professora no curso de jornalismo. E-mail: carla.chein@paponoconsultorio.com.br

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