O Brasil vem registrando aumento dos casos graves de síndrome respiratória por infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador da bronquiolite, e influenza A, que causa a gripe. Desde o início de março, há um crescimento quase constante desses agentes infecciosos. O VSR apresentou a maior taxa de positividade para o período dos últimos três anos. Atualmente, mais da metade do país (16 das 27 unidades federativas) apresenta incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em nível de alerta, risco ou alto risco.
Os dados são de relatório do último dia 22 de abril do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), que monitora a circulação de patógenos respiratórios a partir de registros de laboratórios privados, e do boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado no dia 30 de abril.
Casos no Brasil
A região Sudeste, o Estado de Goiás e o Distrito Federal concentram o maior número de casos de VSR. Já o vírus influenza A, que causa gripe, vem aumentando desde dezembro em todas as faixas etárias, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, levando a grande número de hospitalizações e casos de SRAG.
De acordo com o Infogripe, a maior circulação do VSR, além do rinovírus, tem gerado aumento da incidência de SRAG em crianças pequenas. Há alta de registros da síndrome nas regiões Centro-Sul e em alguns estados do Norte e Nordeste, principalmente, entre crianças e adolescentes de até 14 anos.
Nos Estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso do Sul, há mais casos da síndrome em jovens, adultos e idosos associados ao vírus influenza A. São Paulo apresenta aumento de SRAG em todas as faixas etárias acima dos 15 anos. Em Minas Gerais, o governo do Estado decretou, em 2 de maio, situação de emergência em saúde pública devido ao aumento dos casos de SRAG. A medida vale por 180 dias e permite a adoção imediata de ações administrativas e assistenciais, como contratação de profissionais e aquisição de insumos.
Segundo a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, nesta época do ano começa o período de sazonalidade para esses patógenos.
Com a queda da temperatura, as pessoas tendem a ficar menos ao ar livre, há maior aglomeração em locais fechados, com menos ventilação, o que provoca esse aumento da circulação dos vírus respiratórios.
Emy Akiyama Gouveia, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein
Vacina contra o influenza
No caso da influenza A, uma medida preventiva essencial contra a síndrome respiratória é a vacinação contra a gripe. “Mesmo vacinada, a pessoa pode pegar a doença. Mas a vacina reduz o risco dos quadros graves, evitando internações e óbitos”, destaca Gouveia.
A especialista também enfatiza que a vacina não causa a doença, pois contém vírus inativados. “Se a pessoa pegou gripe logo após a vacinação, é porque ela já tinha o vírus em incubação e desenvolveu a doença na sequência”, explica. No entanto, é normal haver alguma reação, principalmente nas primeiras 48 horas após receber a dose, como dor no local e um pouquinho de febre.
A aplicação da vacina contra influenza deve ocorrer todo ano, porque o vírus sofre mutações. A atualização dos imunizantes ocorre conforme as cepas em circulação. “Além disso, a imunidade resultante da vacina dura, em média, de seis a 12 meses. Por isso é preciso se vacinar todo ano, no outono”, orienta a infectologista.
Em 2025, a campanha nacional de vacinação do Ministério da Saúde começou no dia 7 de abril, voltada para grupos prioritários, que incluem crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes, puérperas até 45 dias após o parto, idosos com 60 anos ou mais, povos indígenas, população quilombola e pessoas em situação de rua.
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Prevenção do VSR
Já no caso do VSR, está disponível na rede pública o palivizumabe (Astrazeneca), anticorpo que previne formas graves de infecção em bebês de alto risco. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), as doses são gratuitas para prematuros que nasceram com idade gestacional de até 28 semanas e seis dias, no primeiro ano de vida, e para bebês com displasia broncopulmonar ou cardiopatia congênita com repercussão, independentemente de idade gestacional ao nascer, até os 2 anos de idade.
Na rede privada, há duas vacinas disponíveis: a Arexvy (GSK), específica para idosos, e a Abrysvo (Pfizer), destinada a idosos, adultos com comorbidades e gestantes. Ela induz uma resposta imunológica na mãe, de modo que o feto receba os anticorpos. Tem aprovação para uso entre 24 e 36 semanas de gestação. Para fazer efeito, sua aplicação deve ocorrer, no mínimo, duas semanas antes do parto.
O imunizante para gestantes assim como o anticorpo monoclonal nirsevimabe (Sanofi), para bebês e crianças até 2 anos com comorbidades foram incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) no início de 2025. Ele, no entanto, só devem estar disponíveis na rede pública no segundo semestre. O tratamento já está disponível na rede particular.
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Síndrome respiratória
De acordo com a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a Síndrome Gripal (SG)é caracterizada, pelo menos, por dois dos seguintes sinais e sintomas:
- febre (temperatura maior que 37,8ºC) ou sensação febril;
- calafrios;
- dor de garganta;
- tosse;
- nariz escorrendo (coriza);
- alterações no olfato ou no paladar.
Em crianças também pode ser considerada a obstrução nasal. Em idosos, no entanto, pode haver confusão mental, desmaios, sonolência, irritabilidade e falta de apetite.
Existem alguns sintomas que indicam que um paciente pode estar apresentando a forma mais grave da doença. E que, portanto, deve ser internado para tratamento hospitalar. Esses pacientes desenvolvem a síndrome respiratória aguda grave, que é caracterizada pelos sintomas da SG associados a pelo menos um dos seguintes sintomas:
- falta de ar ou desconforto para respirar;
- sensação de pressão no peito;
- saturação de oxigênio abaixo de 95%;
- coloração azulada de lábios ou rosto (cianose).
Isso mostra que a falta de ar não é a única forma de identificar a SRAG, além de não estar presente em todos os casos. Além disso, a avaliação de crianças, idosos e população de risco deve ter ainda mais cautela, já que eles podem manifestar a forma grave da doença de maneiras diferentes.
Vários microrganismos, como fungos, vírus e bactérias, podem levar à SRAG. No entanto, muitas vezes não será possível aguardar o resultado de um exame de identificação do microrganismo causador da SRAG para iniciar o tratamento.
Como é feito o tratamento da síndrome respiratória aguda grave?
O tratamento ocorre dentro de um hospital, na enfermaria ou nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A escolha do local depende da gravidade do quadro.
Geralmente, os pacientes necessitam de ajuda para facilitar a chegada de mais oxigênio aos pulmões — por meio de tubos finos (cânulas nasais) ou diretamente na traqueia, órgão que leva o ar do ambiente ao pulmão, por meio da intubação. Outras medidas incluem hidratação com líquidos, como o soro fisiológico, junto ao uso de medicamentos para dor e febre.
Por se tratar de uma condição grave, portanto, os pacientes com SRAG devem ser internados. Dado o risco de instabilidade clínica dessa condição, torna-se fundamental a checagem dos principais sinais vitais, como a pressão arterial, os batimentos cardíacos e a concentração de oxigênio no sangue. Adicionalmente, podem ocorrer alguns exames complementares como os exames laboratoriais, eletrocardiograma e exames de imagem (principalmente a tomografia computadorizada da região do tórax), dependendo da condição de cada paciente.
Quando é necessária internação em UTI?
As UTIs são setores do hospital que oferecem o Suporte Avançado de Vida (SAV) para pacientes graves. Entre os pacientes com SRAG, pois, uma parcela necessita desses cuidados intensivos. Algumas das principais indicações para UTI são:
- intubação: dificuldade respiratória que exige instrumentação hospitalar específica;
- choque: falência na circulação, reduzindo o suprimento adequado de oxigênio ao organismo;
- rebaixamento do nível de consciência: alteração do nível de responsividade do paciente aos estímulos externos;
- aumento considerável na frequência respiratória;
Fonte: Agência Einstein