Quase nove em cada dez brasileiros conhecem a dengue e a gravidade da infecção. Seis em dez sabem que existe vacina contra a doença transmitida pelo Aedes aegypti e quase nove em dez veem a imunização como uma medida eficaz de prevenção. No entanto, 43% dos brasileiros (quatro em cada dez) relatam ter ouvido fake news que desmotivaram a vacinação contra a dengue, incluindo alegações de que o imunizante foi desenvolvido rapidamente, não é eficaz ou causa efeitos colaterais graves.
Os dados são de pesquisa inédita do instituto Ipsos, a pedido da biofarmacêutica Takeda (fabricante da QDenga, vacina contra a dengue disponível nos postos de saúde do país) e com a colaboração da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). O levantamento entrevistou 2.000 brasileiros para entender as percepções sobre a dengue, a vacinação em geral e imunização contra a doença. A divulgação dos resultados ocorreu na última quinta-feira, durante um workshop online para a imprensa, às vésperas do Dia de Combate à Dengue, mobilização que ocorre em todo o país neste sábado (23).
Importância de campanhas
Para os especialistas que participaram da apresentação dos resultados da pesquisa, embora a maioria dos brasileiros reconheça a gravidade da dengue, a disseminação de fake news, principalmente pelas redes sociais, reforça a importância de se investir em campanhas educativas sobre os impactos da doença e as formas de prevenção.
“A pesquisa demonstra que, apesar do aumento da conscientização sobre os riscos da dengue, muitos brasileiros ainda enfrentam barreiras para se vacinar devido ao impacto das fake news, que atingem 41% dos entrevistados relatando o recebimento de informações falsas sobre vacinas em geral pelas redes sociais”, afirma Juliana Siegmann, pesquisadora do Ipsos.
De acordo com o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a população conhece a gravidade da dengue. No entanto, alerta ele, a circulação de fake news, especialmente nas redes sociais, representa um desafio significativo para o controle da doença.
“Informações falsas sobre vacinas em geral, formas de contágio e tratamentos acabam confundindo as pessoas e dificultando a adesão a medidas preventivas e ao tratamento adequado. Por isso, campanhas educativas consistentes e claras são essenciais para combater esses mitos e reforçar a importância da prevenção e da vacinação contra a dengue”, ressalta Kfouri.
De acordo com o presidente da SBI, Alberto Chebabo, a alta taxa de confiança na vacina é um passo importante na luta contra a dengue. “Mas precisamos combater a desinformação que ainda desencoraja uma parcela significativa da população a levar o público elegível para receber a vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS)”, alerta.
Vacina contra dengue
Veja a percepção da dengue e da vacina contra a doença, de acordo com resultados encontrados na pesquisa:
- 9 em cada 10 pessoas consideram a dengue uma doença grave.
- 76% buscam informações sobre a dengue.
- 53% lembram de campanhas ou ações nos últimos 12 meses.
- 39% já tiveram dengue; 85% conhecem alguém que teve.
- 23% conhecem alguém que já faleceu em consequência da dengue.
- Redes sociais (27%) e WhatsApp/SMS (21%) lideram a disseminação de fake news.
- Fake news sobre dengue abordam vacinas (alegações de ineficácia, perigo e efeitos colaterais graves), gravidade da doença (minimização da seriedade da doença); teorias conspiratórias (dengue como invenção); formas de tratamento (curas milagrosas e remédios caseiros ineficazes); informações incorretas sobre formas de contágio; dados confusos relacionados a outras doenças, como a Covid-19.
Principais fontes de informação
O estudo revela quais são as principais fontes para se receber informações sobre vacinas e sobre a dengue. A TV (59%) ainda está à frente como fonte de informações sobre vacinas, sendo seguida pelas redes sociais (49%) e postos de saúde (47%).
As plataformas mais buscadas, de acordo com o levantamento, são Instagram (67%), WhatsApp (54%), YouTube (46%) e Facebook (45%). E, entre as fake news mais comuns sobre dengue, estão eficácia da vacina, gravidade da doença, curas milagrosas e informações incorretas sobre formas de contágio.
Conhecimento e atitudes
Conforme a pesquisa, 64% dos entrevistados ouviram falar sobre alguma vacina contra a dengue. Quase 90% acreditam que a vacina contra a dengue é eficaz para prevenir a doença.
• 43% afirmam, no entanto, ter ouvido informações que os desmotivaram a se vacinar, incluindo alegações de desenvolvimento muito rápido da vacina, que ela não é eficaz ou causa efeitos colaterais graves.
“Com 88% dos brasileiros considerando a vacina contra a dengue uma medida preventiva eficaz, vemos avanços na conscientização. No entanto, é essencial fortalecer a confiança para combater a desinformação, que prejudica a adesão à vacinação”, comenta Vivian Lee, diretora médica da Takeda Brasil.
De acordo com Vivian Lee, os motivos que desestimulam a vacinação contra a dengue entre os entrevistados da pesquisa estão diretamente relacionados às fake news que circulam sobre o imunizante.
Vacinas em geral
Com relação às vacinas em geral, o comportamento do brasileiro diante da vacina contra a dengue é semelhante. O estudo mostra, pois, que, apesar do alto índice de confiança nos imunizantes, a circulação de fake news impacta diretamente as decisões sobre a vacinação em geral:
- 41% dos entrevistados relataram ter recebido informações falsas sobre vacinas nas redes sociais.
- Quase 30%já deixaram de se vacinar ou recomendaram que outros não se vacinassem devido a dúvidas sobre segurança e eficácia.
- 10% decidiram não se vacinar por causa de informações recebidas online ou de amigos e parentes.
- 17% não mudaram de opinião, mas ficaram na dúvida por causa das informações recebidas.
Aspectos positivos
A pesquisa também traz resultados positivos. Como, por exemplo, que 91% dos entrevistados prestam atenção nas campanhas de vacinação; 90% acreditam que as vacinas em geral trazem benefícios; e 95% dizem verificar a veracidade das informações sobre vacinas.
Sentimentos despertados após informações nas redes sociais
• 77% afirmam que as informações trouxeram sentimentos positivos, como confiança (42%), tranquilidade (38%) e otimismo (33%). Além disso, pelo menos metade (50%) ficou interessada no tema.
• No entanto, 23% sentiram-se negativamente impactados, relatando ansiedade (16%), desconfiança (15%), medo (10%) e confusão (9%).
Pais atentos
Do total de entrevistados no levantamento, 43% são pais com filhos entre 4 e 17 anos. Embora cautelosos, eles têm atitudes mais positivas em relação à vacinação em geral, buscando informações e prestando atenção às campanhas. No entanto, esse grupo está mais exposto a fake news, principalmente em redes sociais e canais pessoais como WhatsApp. “Esses pais reconhecem a importância das vacinas e buscam informações para tomar decisões mais informadas sobre a saúde de seus filhos”, destaca Chebabo.
Os céticos da vacinação
A pesquisa também revelou que cerca de 10% dos entrevistados são descrentes em relação às vacinas em geral, sendo, portanto, mais propensos a acreditar em fake news. Mais da metade desse grupo é de pessoas acima de 55 anos, com leve predominância masculina e maior presença nas classes CDE.
Entre os entrevistados, 45% raramente ou nunca têm impacto das informações sobre vacinas em geral. Mas 56% dizem ter medo em relação às vacinas em geral. Quase metade (47%) não acredita ou tem dúvidas sobre a efetividade da vacinação contra a dengue.
Além disso, 50% dos entrevistados desse grupo relatam desconhecer a existência da vacina contra a dengue. E 53% indicam que não a tomariam, mesmo que gratuita. Embora 77% tenham tido contato com a doença, 27% não consideram a dengue grave ou não sabem.
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Referência: Estudo quantitativo por coleta online realizado pela Ipsos a pedido de TAKEDA PHARMACEUTICAL COMPANY LIMITED no Brasil entre 30/10/2024 e 06/11/2024. Foram realizadas 2.000 entrevistas com amostra desproporcional por classe social em todo o território brasileiro com população acima de 18 anos de todas as classes sociais. Margem de erro de 2,2 p.p.