27 - abril - 2024
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Satisfação com a vida faz bem à saúde do coração

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O nível de satisfação com a vida está diretamente relacionado à saúde do coração. É o que indica uma pesquisa feita na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O artigo deve ser publicado em breve na revista científica “Health Psychology”.

“Esses resultados são particularmente importantes para o Brasil, já que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no país”, ressalta a nutricionista Aline Eliane dos Santos. Ela é a autora da pesquisa, feita como doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina UFMG. As doenças cardiovasculares matam cerca de 350 mil pessoas a cada ano no Brasil, segundo o Cardiômetro, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Isso equivale, pois, a uma morte a cada 90 segundos.

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A pesquisadora acredita que esse seja o primeiro estudo a abordar a relação entre satisfação com a vida e saúde cardiovascular e mortalidade usando dados de uma população brasileira. Aline explica ao Papo no Consultório que, nos últimos anos, foram realizados muitos estudos sobre a relação entre satisfação com a vida e menor risco de se adoecer. “Poucos estudos, no entanto, examinaram se a satisfação com a vida poderia promover saúde, especialmente a cardiovascular”, afirma. Ela diz que encontrou em seus levantamentos apenas uma pesquisa norte-americana com o tema específico.

Satisfação com a vida

Aline diz, pois, que a satisfação com a vida pode melhorar a saúde cardiovascular por duas vias. Uma delas é por meio do controle do estresse, tendo efeitos positivos em questões biológicas, como na ação dos neurotransmissores. A outra, seria por meio de comportamentos.

Pessoas mais satisfeitas podem, por exemplo, adotar mais hábitos saudáveis, como a prática de atividades físicas, o que resultaria na melhor saúde cardiovascular.

Aline Eliane dos Santos, nutricionista e pesquisadora

O estudo, diz a nutricionista, sugere que a satisfação afeta muito mais os comportamentos. “É possível que um dos caminhos que conectam a maior satisfação com a vida à melhor saúde cardiovascular seja a redução dos efeitos deletérios do estresse, como a menor ativação das respostas inflamatórias, que são um mecanismo comum a várias doenças crônicas. A satisfação com a vida também estimula os indivíduos a adotar comportamentos saudáveis, como a prática de atividade física, e outros cuidados com a saúde”, completa.

O estudo da UFMG

A pesquisa analisou dados de quase 13 mil participantes da segunda visita de exames e entrevistas presenciais do ELSA-Brasil, o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, realizada de 2012 a 2014. Criado em 2008, o ELSA acompanha a saúde de servidores públicos de instituições de ensino e pesquisa de seis capitais brasileiras para investigar a incidência e a progressão das doenças crônicas não transmissíveis no país.

No estudo de Aline, a saúde cardiovascular – ausência de doenças cardiovasculares e de seus fatores de risco – foi avaliada pelo Escore de Saúde Cardiovascular Ideal. Proposto pela American Heart Association (Associação Americana do Coração), ele engloba dois subescores:

  • Fatores comportamentais: avalia aspectos como prática de atividade física, alimentação saudável e ausência de tabagismo.
  • Fatores biológicos: considera as medidas de glicemia de jejum, pressão sanguínea, índice de massa corporal e colesterol total.

Ao analisar separadamente os dois subescores, portanto, houve associação dos maiores níveis de satisfação com a vida somente com o subescore de comportamentos.

O estudo utilizou, ainda, a Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), criada em 1985, que apresenta cinco afirmativas para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Assim, o escore total vai de 5 a 35 pontos. “Quanto maior a pontuação da satisfação com a vida, portanto, mais alta também era a saúde cardiovascular do participante”, explica a nutricionista.

Indicador relevante

A pesquisa também mostrou que níveis baixos de satisfação com a vida estão associados com maior mortalidade por todas as causas em adultos de até 65 anos. Segundo a nutricionista, esses resultados corroboram o entendimento da satisfação com a vida como indicador relevante de saúde e desenvolvimento econômico e social. Ela ressalta, no entanto, que é importante estudar a satisfação com a vida em diferentes populações, já que ela tem influência do contexto social, econômico e cultural em que as pessoas vivem.

Aline lembra ainda que os indicadores tradicionais de desenvolvimento, como o PIB per capita, mostram-se insuficientes para medir o bem-estar da população. “Como a satisfação com a vida tem forte influência dos determinantes sociais, como renda, emprego, escolaridade, altos níveis de satisfação seriam reflexo de políticas de bem-estar social bem estabelecidas”, explica a pesquisadora.

A satisfação com a vida tem se mostrado um indicador relevante de saúde, qualidade de vida e situação econômica. Esperamos que seja incorporada ao longo dos anos até mesmo por questões de saúde mental.

Aline Eliane dos Santos, nutricionista e pesquisadora

“Acreditamos que muitos estudos vão surgir. Esperamos que os resultados atuais e pesquisas futuras colaborem para fortalecer a inserção da avaliação da satisfação com a vida em inquéritos nacionais. Como, por exemplo, nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, propõe Aline.

Sobre a pesquisa:

Tese: “Satisfação com a vida, saúde cardiovascular e mortalidade – Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil)”

Programa: Pós-graduação em Saúde Pública (doutorado)

Autora: Aline Eliane dos Santos

Orientadora: Luana Giatti Gonçalves

Co-orientadora: Lidyane do Valle Camelo

Local: Faculdade de Medicina da UFMG

Defesa: 21 de novembro de 2023

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Carla Chein
Carla Chein
Carla Chein é jornalista com pós-graduação em jornalismo científico. Tem experiência em jornal impresso e como professora no curso de jornalismo.

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