04 - maio - 2024
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Os riscos do autodiagnóstico na internet

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Em nome da sobrevivência


A internet é uma ferramenta tecnológica que torna mais rápida a comunicação no mundo moderno, um grande avanço da civilização. Mas é um meio eletrônico para troca de informações. Não pode ser confundida com o guru iluminado que sobe ao pico da montanha para semear a sabedoria na Terra.

Como é máquina alimentada por seres humanos – em geral desconhecidos, limitados e sujeito a erros, como toda a espécie -, convém não submeter a própria vida às informações que chegam pelo computador ou pelo smartphone. Mas, infelizmente, é o que ocorre com grande parcela da população que se autodiagnostica e a se automedica segundo o “doutor Google”. Pois essas pessoas ainda não perceberam os riscos a que estão sujeitas.

A importância do embasamento científico

As informações médicas pela internet podem ser falsas (fake news) ou desprovidas do devido embasamento científico, embora reconheçamos as mais sérias, de fontes identificadas e comprovadas. O que, no entanto, não justifica o fato de alguém, a partir de um incômodo qualquer, recorrer à internet para se automedicar.

Ao recorrer ao autodiagnóstico na internet, a pessoa fica sem saber se é portadora ou não de alguma doença. Pode ser que o incômodo volte, e só aí o paciente poderá desconfiar de algo mais sério.

Necessidade, sim, de exame clínico

Com tanta tecnologia disponível na área médica, algumas pessoas se esquecem da importância do exame clínico para o diagnóstico e o tratamento. O exame é dividido em duas etapas: a anamnese e o exame físico.

Anamnese (do grego ana, trazer de novo, e mnesis, memória) é básico. O paciente deve relatar ao médico os sintomas, falar de passado e presente, de seus antecedentes, de seus hábitos. Nesse processo, deve-se estabelecer uma conversa franca.

A partir daí, além dos exames laboratoriais, é possível obter informações sobre o estado geral do paciente. E se pode identificar doenças por meio de sinais e sintomas. O foco na pessoa – e não no computador  – é que levará às causas de uma moléstia e ao melhor caminho para o tratamento.

“Nessa interação com o paciente, formulam-se 70% dos diagnósticos.”

Em cardiologia, por exemplo, médico e paciente precisam ficar atentos aos sintomas que podem indicar algum tipo de comprometimento. Alguns sinais importantes podem ser confundidos com um simples mal-estar.

Sudorese, tremores e falta de ar estão entre as várias manifestações de princípio de infarto agudo do miocárdio. Até para diferenciar infecção de inflamação, é preciso considerar sinais, sintomas e as diversas variações clínicas e os exames laboratoriais.

Outro exemplo é o Acidente Vascular Encefálico (AVE) – antes chamado de AVC -, que pode se manifestar apenas como uma confusão mental passageira. Como tratar essa informação pela internet? O que aparenta apenas um mal-estar pode esconder algo grave. Cabe ao médico investigar o caso e tratar.

O autodiagnóstico na internet é realidade

Levantamento recente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), entidade de pesquisa e pós-graduação na área farmacêutica, divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, mostrou que o autodiagnóstico na internet é comum. E que a situação é mais grave do que se imagina. Afinal, pessoas das classes A e B, jovens e com curso superior formam a maioria que usa a internet para se autodiagnosticar.

Agora, o terceiro estudo do instituto sobre o tema apontou que 40,9% dos brasileiros fazem autodiagnóstico pela internet. Desses, 63,84% têm formação superior. Na pesquisa anterior, de 2016, o índice de autodiagnóstico online foi de 40%.

Imaginava-se que o público em busca de soluções pela internet era de classe média para baixo, por falta de condições de procurar um médico. Mas o resultado surpreendeu. Surgiram então as pessoas das classes altas, esclarecidas e com poder econômico para buscar informações mais concretas e conscientes sobre saúde.

Na classificação econômica, 55% dessas pessoas são das classes A e B e 26% das classes D e E. As de renda mais baixa ainda buscam mais o médico em prontos-socorros. Quanto mais idosas, mais recorrem ao médico, pois têm dificuldade com a internet. O levantamento foi feito em maio deste ano em 120 municípios, incluindo todas as capitais, e ouviu 2.090 pessoas com mais de 16 anos.

Imediatismo: uma das motivações

Para os pesquisadores, o imediatismo está entre as motivações. Principalmente entre os jovens de 16 a 34 anos. Imediatismo ou preguiça da rotina de marcar um horário, o tempo às vezes longo na sala de espera, depois os exames etc. Esses pacientes costumam procurar o médico já com efeitos colaterais ou interação medicamentosa. E aí alguma doença foi mascarada, o que resultará em diagnóstico retardado.

Boa parte das doenças começa com dor, febre, indisposição, sintomas comuns, e as pessoas se valem de remédios mais conhecidos, sem esperar sua progressão. Aí mora o perigo de mascarar algo mais grave.

Se o paciente não tem nenhum dos sintomas e vai ao consultório apenas em nome da prevenção, ótimo. Está a caminho de uma vida mais longa. De todo modo, é importante fazer um check-up uma vez por ano, a verdadeira chave da boa saúde.

Enfim, é preciso fazer da prevenção o principal aliado, manter o compasso da máquina e viver intensamente. O corpo merece, em nome da sobrevivência.

Leia mais:

Dê mais atenção à conversa com o seu cardiologista

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Américo Tângari Junior
Américo Tângari Junior
Américo Tângari Junior é médico especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira.

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