Um guia para orientar a forma como nos alimentamos
Nutricionista elogia publicação do Ministério da Saúde por fugir dos modismos, mas alerta que se trata de uma referência geral e que é preciso considerar as características de cada pessoa
O brasileiro adquiriu maus hábitos alimentares nos últimos anos e o reflexo disso pode ser visto na balança. As consequências são alguns – ou muitos – quilos a mais. Quase um em cada cinco brasileiros está obeso e mais da metade está acima do peso, de acordo com a pesquisa Vigitel 2017.
O quadro preocupa o governo. Em uma tentativa de orientar as pessoas, o Ministério da Saúde está divulgando o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz 10 dicas para uma alimentação saudável. Neste ano, o Brasil também assumiu, junto à Organização Mundial de Saúde (OMS), o compromisso de atingir três metas para melhorar as estatísticas:
- Deter o crescimento da obesidade na população adulta até 2019, por meio de políticas de saúde e de segurança alimentar e nutricional.
- Reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em, pelo menos, 30% da população adulta até 2019.
- Ampliar em no mínimo 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente até 2019.
A nutricionista Marcia Daskal, criadora da Nutrição Amorosa, fala um pouco sobre a importância dessas medidas e alguns cuidados que é necessário ter.
1) Seguir o Guia Alimentar para a População Brasileira pode ajudar na mudança de hábitos?
O guia alimentar surge como um instrumento, produzido pelo Ministério da Saúde, para salientar e motivar a saúde da população brasileira, através de dicas, dados e orientações sobre alimentação. Em uma época na qual todos os dias aparecem modismos alimentares, dietas restritivas e nada saudáveis recomendadas por pessoas que, muitas vezes, não são qualificadas, o guia se impõe como uma fonte confiável, que trata do bem-comer e da forma como se come, mais do que de nutrientes ou alimentos isolados.
2) Qualquer pessoa pode adotar o guia como referência?
Esse tipo de material é de suma importância para a população e para profissionais da saúde, e foi considerado um guia alimentar muito avançado, gerando discussões no mundo todo. No entanto, é importante compreender que ele se trata de uma referência em geral, e cada pessoa tem necessidades diferentes e particularidades em relação a cada alimento, por isso é preciso escutar seu corpo e adequar-se ao que ele precisa. Para casos específicos, a ajuda profissional é sempre recomendada.
3) Os alimentos processados são tão ruins como os ultraprocessados?
Existe um questionamento por parte de alguns profissionais sobre essa divisão entre alimentos processados e ultraprocessados. Embora estejam citados dessa maneira no guia alimentar, o fato é que são alimentos industrializados. Consumir alimentos industrializados virou um estigma, mas isso nem sempre é ruim. Alimentos industrializados podem ser aliados na praticidade e colaborar para a diversidade e a segurança alimentar. Sal, açúcar, farinha, macarrão, carne, frango – todos são alimentos industrializados e podem entrar no preparo de pratos muito saudáveis. Dito isso, também é importante dizer que nenhum alimento faz bem ou mal. O que importa é como isso é consumido no dia a dia. E a combinação de alimentos em geral.
4) Essas ações do governo podem contribuir para melhorar os hábitos de alimentação do brasileiro?
O governo tem um papel importantíssimo para impulsionar essa mudança, pois ele pode dispor dos recursos necessários para introduzir a reeducação alimentar na escolas e nos programas de saúde, assim como incentivar o combate ao sedentarismo, inserindo o cidadão novamente dentro do espaço urbano. A reintegração com o espaço público é uma das maneiras para combater o aumento desses índices que, sem dúvida, não podem continuar aumentando.
5) O governo pode contribuir de outras maneiras?
O governo pode ajudar promovendo debates com setores da sociedade sobre alimentação e estilo de vida. Fazer campanhas educativas sobre a escolha consciente dos alimentos como, por exemplo, ensinando a população a ler os rótulos. Orientar profissionais da saúde e da educação sobre como repassar informações para uma alimentação equilibrada, variada e, sobretudo, uma alimentação saudável. Aqui é preciso lembrar que não existe nenhum alimento vilão ou proibido. Não basta tachar um ingrediente ou recriminá-lo. Devemos, sim, ampliar o debate para incluir quantidades adequadas e formas de consumo.
Fonte: Nutricionista Marcia Daskal. Formada pela USP e mestre em ciências pela Unifesp. Criadora da Nutrição Amorosa, trabalha buscando resgatar a relação com a comida.
10 passos para uma alimentação saudável:
- Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados.
- Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades.
- Limite o consumo de alimentos processados.
- Evite alimentos ultraprocessados, que são aqueles que sofrem muitas alterações em seu preparo e contêm ingredientes que você não conhece.
- Coma regularmente e com atenção. Prefira alimentar-se em lugares tranquilos e limpos e na companhia de outras pessoas.
- Faça suas compras em locais que tenham uma grande variedade de alimentos in natura. Quando possível, prefira os alimentos orgânicos e acroecológicos.
- Desenvolva suas habilidades culinárias. Coloque a mão na massa, aprenda e compartilhe receitas.
- Planeje seu tempo. Distribua as responsabilidades com a alimentação na sua casa. Comer bem é tarefa de todos.
- Ao comer fora, prefira locais que façam a comida na hora.
- Seja crítico. Existem muitos mitos e publicidade enganosa em torno da alimentação. Avalie as informações que chegam até você e aconselhe seus amigos e familiares a fazerem o mesmo.
Conheça os alimentos processados e ultraprocessados:
Exemplos de produtos processados: hortaliças como cenoura, pepino, ervilha, palmito, cebola e couve-flor em conserva; extrato ou concentrados de tomate; frutas em calda e frutas cristalizadas; carne seca e toucinho; sardinha e atum enlatados; outras carnes ou peixes salgados, defumados ou curados; queijos; pães e produtos panificados em geral.
Exemplos de produtos ultraprocessados: doces ou salgadinhos de pacote, biscoitos, sorvete, balas e guloseimas em geral; refrigerantes e refrescos; sucos adoçados e bebidas “energéticas”; cereais matinais açucarados; bolos, misturas para bolo e barras de cereais; bebidas lácteas e iogurtes adoçados e aromatizados; sopas, macarrão e temperos “instantâneos”; pratos pré-preparados ou semiprontos incluindo massas, pizza, pratos à base de carne, peixe ou hortaliças, hambúrguer, salsicha e outros embutidos, carne de aves e peixes empanada ou do tipo nuggets.
Fonte: Guia Alimentar para a População Brasileira